TRÊS OLHOS SOBRE EDGAR ALLAN POE
Fellini, Malle e Vadim lançam olhares sobre o escritor em filme irregular
Três diretores de peso e três histórias de Edgar Allan Poe, adaptadas com altos e baixos para o cinema. Roger Vadim assina a primeira delas, Metzengerstein, sobre a nobre fútil e mundana e sua relação de amor e ódio com o primo. O mais provocante é justamente o fato da insinuação incestuosa entre Jane e Peter Fonda, mas Vadim trata de dar um tom apático e distante à história – talvez como queria acreditar que era sua personagem principal. O resultado é que o filme não se assume como uma adaptação de Poe. Parece, inclusive, ter vergonha disso.
A incursão de Louis Malle é a mais eficiente na instalação do mistério e também a leitura mais fiel ao espírito da obra do escritor. William Wilson, personagem que inspirou a alcunha de um dos integrantes da Liga dos Blogues, respira Poe na caracterização de Alain Delon e no ritmo lento porém contínuo que Malle imprime à história. Do começo ao fim, o filme se pretende simples e discreto, sem muito adorno para dar o tom fantástico. Essa linha quase ríspida ajuda a dar uma textura macabra e assustadora ao episódio.
Se Malle é fiel e Vadim não consegue traduzir Poe, Fellini deturpa tudo. Utiliza o fio condutor do texto original para criar seu Toby Dammit, onde Terence Stamp aparece num de seus melhores momentos, como o astro meio decadente que vai à Itália para filmar um western católico. Fellini abusa do nonsense e da estilização visual (fotografia, direção de arte, figurinos excelentes) para se apropriar da trama de Poe e fazer um filme ?de Fellini?. Não faz concessões ao fácil entendimento e não se constrange em complicar ainda mais. Decisão sábia porque transforma este filme num espetáculo impressionante.