Joel Schumacher é um diretor inconstante. Se conseguiu o mérito de realizar um filme delicioso como Por um Fio, foi o responsável por ridicularizar o Batman em dois filmes intragáveis que enterraram por um tempo a vida do homem-morcego nos cinemas. Asssumidamente gay, Schumacher encheu o herói de cores e brilhos – e deu motivo de sobra para quem enxerga uma relação homossexual entre ele e seu pupilo Robin. Ganhou ferrenhos detratores. Se Schumacher conseguiu esse feito com um personagem de natureza tão dark quanto o Batman, ninguém tinha muitas dúvidas do que aconteceria com sua versão para o musical O Fantasma da Ópera, de Andrew Lloyd Weber.
Convenhamos. Nada mais gay que a Broadway. Ninguém mais Broadway que Andrew Lloyd Weber. Um homem que ficou milionário por sua capacidade de transformar histórias clássicas em superproduções musicais onde cinco ou seis melodias-chiclete grandiosas ganham cinco ou seis letras diferentes (o tema principal é um megahit interplanetário e o tema amoroso já ganhou versão até com Errghmílio Santiago). Diante disto, quem melhor do que Joel Schumacher para adaptar para o cinema o que Lloyd Weber escreveu para o palco?
E o diretor não se acanha ao incorporar o espírito do musical. O misto de mistério de folhetim e arroubos amorosos (sempre amores maiores que a vida) com o exagero multicolorido na direção de arte e nos figurinos ao lado da música estridente e recorrente – e sem fim – característica do espetáculo original – tudo está na tela. Schumacher tem certo cuidado com a fotografia, que embora não tenha merecido ser indicada ao Oscar (ainda mais, em detrimento de Colateral) tenta ser criativa. Impossível dissociar o filme, cuja história é mais conhecida as músicas da Madonna, de adjetivos como camp, kitsch ou mesmo brega. Ele é muito brega. Se Emmy Rossum, com cara de sofrimento imortal, tá bem meia boca, o fantasma nervosinho Gerard Butler e a histérica diva Minnie Driver incorporam muito bem o clima. E é por essa opção de ser fiel à obra de Lloyd Weber que o filme pareça tão redondo para o que se pretende. Haja gelo seco! Pena que o neon tenha saído de moda…
O Fantasma da Ópera
[The Phantom of the Opera, Joel Schumacher, 2004]
Direção: .
Roteiro: Andrew Lloyd Weber e Joel Schumacher, a partir do musical de Lloyd Weber, baseado no romance de Gaston Leroux.
Elenco: Emmy Rossum, Gerard Butler, Patrick Wilson, Miranda Richardson, Minnie Driver, Ciarán Hinds, Simon Callow, Victor McGuire, Jennifer Ellison, Murray Melvin, James Fleet, Kevin McNally.
Fotografia: John Mathieson. Montagem: Terry Rawlings. Música: Andrew Lloyd Weber, adaptada de seu musical (canção original para o filme: Learn to Be Lonely). Direção de Arte: Anthony Pratt. Figurinos: Alexandra Byrne. Produção: Andrew Lloyd Weber. Site Oficial: www.phantomthemovie.warnerbros.com.
rodapé: E o filme do Garrincha, hein? Vale a pena? Tô pensando em ver neste fim de semana. Estréia hoje (não em Salvador) O Lenhador, que é um filme interessante e tem uma bela interpretação de Kevin Bacon.
nas picapes: Feira de Mangaio, com Clara Nunes.