O SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI

O dia era 31 de dezembro. Entre muitas discussões sobre para onde ir horas depois,
muitos adolescentes se preparavam para mais um filme com efeitos especiais. Eu, que já me afastei bastante da puberdade, apesar de as espinhas aparecem de vez em quando, me preparava para ver magia. Desde que A Sociedade do Anel estreou nos cinemas, eu – e mais um turbilhão de Peter Pans crescidos – descobri que Peter Jackson, o gordinho neozelandês que dirige a trilogia O Senhor dos Anéis – nasceu para costurar fábulas e torná-las em imagem e som.

Uma coisa é descrever terras distantes, seres mágicos, batalhas místicas, e deixar as imaginações férteis trabalhando. Outra é materializar todo um universo, com códigos, sistemas e personagens cheios de desdobramentos e possibilidades, respeitando a obra original e construindo verossimilhança, sem perder a magia. A missão de Peter Jackson era difícil e de sucesso pouco provável. Sucesso artístico, entenda-se. Mas o cineasta cumpriu seu papel em todos os prismas, do épico de batalhas grandiosas, da honra de cumprir uma missão à cumplicidade entre dois amigos.

O Retorno do Rei encerra uma saga. Ou várias. A saga de Frodo Bolseiro e seu melhor amigo – o melhor amigo que alguém poderia ter – Samwise Gangee para destruir uma arma do mal. A saga de Aragorn, o herdeiro de um trono tomado numa batalha sangrenta, para honrar o trono do pai. A saga de hobbits, magos, elfos, anões e homens com uma missão, com um propósito. Heróis cujos feitos muitas vezes passaram despercebidos porque eram apenas pequenas – ainda que fundamentais – partes de um objetivo maior. Sob esse prisma, toda a trilogia é bem velha, assim como são velhos o conceito de dignidade, de honra, de respeito e – o mais simples de todos – o de ser bom.

Tempos modernos. Foram eles que destruíram a beleza, a pureza. Que nos fizeram acreditar que heróis que matam são mais humanos ou mais críveis. Que falhas no caráter não somente devem ser aceitas e perdoadas, mas são provas de que sagacidade e perspicácia e capacidade de observação da realidade. Na minha época, as crianças voavam com seres alados, lutavam em ligas de justiça, combatiam as diferenças e aprendiam, brincando, o que deveria ser importante de verdade. Tem gente que não gosta de O Senhor dos Anéis. Tem gente que acha bobo, pueril. Eu gosto. Gosto muito. Talvez eu seja apenas um bobo, pueril. Talvez não. Talvez eu ache que acreditar na sua missão é coisa para um homem.

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei
The Lord of The Rings: The Return of The King, EUA/Nova Zelândia, 2003
Direção: Peter Jackson.
Elenco: Elijah Wood, Sean Astin, Viggo Mortensen, Ian McKellen, Andy Serkis, Billy Boyd, Dominic Monaghan, John Rhys-Davies, Orlando Bloom, Liv Tyler, Hugo Weaving, Miranda Otto, Sean Bean, Cate Blanchett, Bernard Hill, Ian Holm, Bruce Hopkins, Sarah McLeod, John Noble, Paul Norell, Thomas Robins, Harry Sinclair, Karl Urban, David Wenham.
Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens e Peter Jackson, baseados na novela homônima de J.R.R. Tolkien. Produção: Peter Jackson, Barrie M. Osborne e Fran Walsh. Fotografia: Andrew Lesnie. Edição: Jamie Selkirk (com Annie Collins). Direção de Arte: Grant Major. Figurinos: Ngila Dickson e Richard Taylor. Música: Howard Shore.

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