A Festa Nunca Termina
Manchester, final dos anos 70. Um show dos Sex Pistols. Na platéia, integrantes do Joy Division, Simply Red e Durutti Collumn, entre outros. Começava uma nova era na história do rock. Começava a era da Factory. O jornalista Tony Wilson, apresentador da TV inglesa, inicia sua jornada pela música pop, conhecendo, promovendo e apresentando novas bandas de rock para o mundo. A primeira delas é a maior de todas, o Joy Divison.
O Joy Divison torna-se a primeira grande aquisição da Factory Records, a gravadora montada por Wilson e seus amigos. O fenômeno em torno da banda é maior que seu líder, vocalista e letrista, Ian Curtis, que cede sua vida em troca de paz. O tempo passa e a evolução continua. Os integrantes remanescentes resolvem continuar a tocar. Surge o New Order e a clássica Blue Monday.
A Factory explode na popularidade, o que reverte na vida pessoal de Wilson, que sofre abalos sísmicos em seu casamento. Novos grupos vêm. O James, o Happy Mondays. Surge o Hacienda, um dos mais clássicos dance clubs de todos os tempos. A música toma conta de tudo, de todos, de poros e de sensores. Muda, evolui, se esconde, aparece, aumenta, diminui, procura e destrói. Manchester, a Inglaterra, a Europa e o mundo se rendem ao som. São anos a fio de acordes múltiplos. De conquista e envolvimento. Época em que se determina comportamento, modo de vida e som.
Esse é o cenário da Inglaterra e do rock moderno durante as décadas de 80 e 90. E este também é o cenário de A Festa Nunca Termina, o melhor filme de rock’n’roll dos últimos anos. O roteiro narra a trajetória de Wilson e de seus coadjuvantes de luxo, as maiores bandas do rock inglês em vinte anos. O longa faz parte de uma estirpe que cresce a cada dia, a de filmes sobre música feitos por pessoas apaixonadas por música. Quase Famosos (00) e Hedwig (00) são os melhores exemplos.
A Festa Nunca Termina é prato cheio pra quem gosta de rock e de cinema de qualidade. É música por todos os poros. O rock conduz cada cena, da edição inteligente ao próprio roteiro, que é contado com ajuda de canções clássicas. O disco, obrigatório, ajuda a narrar o surgimento e o fim de uma saga. O desconhecido Sean Harris recebe uma incumbência enorme: dar vida a uma lenda, Ian Curtis, do Joy Division. E o novato não é menos que espetacular.
O protagonista Steve Coogan está genial como Tony Wilson. Encarna o apaixonado que se deixa levar pelo espírito da música pop. Que viajou durante anos no sonho do rock’n’roll, que embalou a minha, a sua e a vida dele. Coogan conversa o tempo inteiro com o espectador, que se torna seu maior confidente, sua cara metade. Do jeito que Michael Winterbottom desenvolve todas as faces de seu filme, é impossível não ser cooptado para uma Manchester fascinante. É impossível não sair fascinado do cinema.
A Festa Nunca Termina
24 Hour Party People, Grã-Bretanha/França/Holanda, 2002
Direção: Michael Winterbottom
Elenco: Steve Coogan, Keith Allen, Dan Hope, Paddy Constantine, Andy Serkis, John Thomson, Shirley Henderson, Lennie James, Martin Hancock, Sean Harris, Chris Coghill, Mark Windows, John Simm, Ralf Little, Danny Cunningham, Raymond Waring. Roteiro: Frank Cottrell Boyce. Produção: Andrew Eaton. Fotografia: Robby Müller. Direção de Arte: Mark Tildesley. Edição: Trevor Waite e Michael Winterbottom. Figurinos: Stephen Noble e Natalie Ward.