Todo dia Warren R. Schmidt faz tudo igual. Levanta às sete horas da manhã e vai fazer xixi, sentado, como a mulher ensinou para deixar o sanitário limpinho. Depois, o destino é o escritório onde trabalha há décadas como vice-presidente de uma empresa de seguros. Até que um dia ele olha pro relógio, esperando a hora passar. Acabou. Momento de se aposentar. É a partir daí que Schmidt começa a divagar sobre si mesmo e sobre tudo que o cerca: o que fez da vida até hoje? Cumpriu seu papel, sua função no mundo? Valeu a pena? E agora, o que fazer? Os esforços para se tornar útil começam com a adoção de um menino etíope pelo correio. Perdido entre o não saber o que fazer e o já fiz a minha parte, uma tragédia pessoal o atira na estrada e na vida. Schmidt embarca numa viagem para tentar se reaproximar da filha, que mora longe. Uma viagem em busca de presença, carinho e respostas.
Jack Nicholson se despe de Jack Nicholson e, sem exageros, parece estar no papel mais importante de sua carreira. No filme de Alexander Payne, dos ótimos Ruth em Questão (96) e Eleição (99), se seu protagonista busca respostas, a vida não se encarrega de revelá-las. O roteiro é bem duro com Schmidt e com o espectador. Há momentos de angústia torturante onde é impossível não se identificar com o personagem. A solidão e a sensação de impotência que tomam conta de seus 66 anos de vida fazem parte do dia-a-dia de qualquer um, sujeito ao tic-tac do relógio… E o tempo passa a as respostas não vêm. E a vida se revela um poço de inutilidades. E quanto mais você quer entender e quer que te apontem pra onde ir, mais incertezas a vida te traz. A vida de Schmidt é assim: triste e solitária, cheia de dúvidas. E, por isso tudo mesmo, absolutamente real.
As Confissões de Schmidt
[About Schmidt, Alexander Payne, 2002]