Começar de novo. É o que tentam os três personagens que protagonizam o filme de estréia de Andrey Zvyagintsev. O russo de nome difícil abriu uma das feridas mais profundas da velha União Soviética, a das famílias dilaceradas. Doze anos depois de desaparecer por completo, um homem volta para casa e reencontra a mulher e os dois filhos já crescidos. Fosse rodada à moda do cinema feito à oeste de Greenwich, essa história facilmente sucumbiria a pelo menos três grandes vícios narrativos ocidentais: escolher vilões, desvendar enigmas e provocar catarses dramáticas. Mas para o cineasta russo, o que merece atenção é o impacto da ausência para cada um dos envolvidos e não enumerar em ordem cronológica os fatos que estabeleceram a situação. A viagem para uma pescaria vai confrontar pai e filhos com o que restou da relação entre os três e em que bases cada um consegue estruturar o novo contato.
O diretor insinua revelar o mistério do desaparecimento, que ainda guarda reflexos, por quase todo o longa-metragem, mas em troca do segredo oferece sua contribuição para um estudo sobre o perdão na esfera familiar. A base narrativa do filme se apóia num dos trabalhos de câmera mais elaborados do ano, onde cada imagem é tratada como uma pintura. A sofisticação visual é obviamente calculada, mas o espetáculo é completo para os olhos e, somado à música, conduz com precisão poética a história que o cineasta pretende contar. O Retorno, no entanto, poderia ser um desperdício de talentos pontuais caso Zvyagintsev não tivesse encontrado um protagonista digno do papel central. Ivan Dobronravov é capaz de equilibrar a fúria pré-adolescente com um olhar tão denso e sincero que faz veteranos ficarem rubros. O fim da projeção pode não abrir caixas e apontar culpados, mas permite divagações sobre o abismo indefinível entre dois indivíduos.
O Retorno
Vozvrashcheniye, Andrey Zvyagintsev, 2003
Ainda não vi o filme. Baixei da Internet e estou procurando opiniões sobre, críticas e comentários. O cinema russo me interessa muito.