PRODUTO DO MEIO

Altman invade o mundo da dança preocupado em explorar o processo e não seus personagens

Robert Altman adora muita gente reunida. Seus filmes são festas concorridas, com personagens que protagonizam cenas e não a obra inteira. Característica que contribui para roteiros ricos e avessos a vícios de estrelismo. O cineasta é um autor, sem dúvida. E como todos os autores, sua carreira tem momentos bons e ruins. Muita gente se dedicou a escrever sobre como De Corpo e Alma é um filme que se encaixa na última categoria. Para isso, argumentos não faltaram: Neve Campbell protagonizando, produzindo e escrevendo o texto, a partir de suas experiências como dançarina foi o maior deles. Vejam bem, eu não sou fã de Neve Campbell, mas ela sempre me pareceu uma mocinha bastante simpática e bonita. Adoro os dois primeiros Pânicos e confesso que os problemas adolescentes de Party of Five eram bem legais de acompanhar. Mas o caso não é este: Neve Campbell é, mas não é, protagonista deste filme. Porque Altman não a trata assim.

Ry é uma integrante da companhia cujos bastidores o filme acompanha. Seu espaço no longa é quase o mesmo dedicado aos outros personagens. E isso, retorno, é uma característica do diretor, mesmo em filme encomendados com esse. Os efeitos são controversos. O vício de Altman de invasor de universos (o do country, o da moda, o do cinema, o do exército) encontra aqui a dança. Mas, hábil em se dedicar ao conjunto, o cineasta peca porque desta vez não consegue desenvolver bem os personagens. Muito mais refém de clichês, Fama (Alan Parker, 80) se dá bem melhor neste quesito, se é que é possível comparar os filmes. No filme de Altman, os atores são apenas elementos da companhia do título original. O tratamento, se não é raso, pode ser chamado de descuidado. A falta de elaboração nesse aspecto é substituída pela dedicação ao processo. O cineasta quer mostrar como tudo aquilo é feito. E o faz com razoável sucesso. Mas esta opção, em troca de se aprofundar no tratamento aos indivíduos, deixa o filme com um gosto mecânico. Isso incomoda. Não mais que as coreografias apresentadas no longa que, aos olhos do não-especialista que vos escreve, pareceram bem feinhas.

DE CORPO E ALMA
The Company, EUA/Alemanha, 2003.

Direção: Robert Altman.

Roteiro: Barbara Turner, baseada na história dela e de Neve Campbell.

Elenco: Neve Campbell, Malcolm McDowell, James Franco, Barbara E. Robertson, William Dick, Susie Cusack, Marilyn Dodds Frank, John Lordan, Mariann Mayberry, Rick Peeples, Yasen Peyankov, Deborah Dawn, John Gluckman, David Gombert, Suzanne L. Prisco, Domingo Rubio, Emily Patterson, Maia Wilkins, Sam Franke, Trinity Hamilton, Julianne Kepley, Valerie Robin, Deanne Brown, Michael Smith, Matthew Roy Prescott, Lar Lubovitch, Robert Desrosiers.

Fotografia: Andrew Dunn. Montagem: Geraldine Peroni. Direção de Arte: Gary Baugh. Música: Van Dyke Parks. Figurinos: Susan Kaufmann. Produção: Robert Altman, Joshua Astrachan, Neve Campbell, Pamela Koffler, David Levy, David Ley, Christine Vachon. Site Oficial: http://www.sonyclassics.com/thecompany.

nas picapes: Femme Fatale, REM.

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