Seria muito mais cômodo para alguém que se propõe a resenhar filmes encontrar motivos para falar mal de Cazuza – O Tempo Não Pára. O primeiro seria questionar o teor capitalista do filme que explora uma figura mítica (polêmica e profana) para toda uma geração; um filme que, invariavelmente, faria dinheiro. Segundo, reclamar das indecorosas limitações que o trabalho exala por estar preso a um livro de forte conteúdo moralista e de auto-preservação e comiseração. Terceiro, culpar a equipe envolvida pelo assim entendido fracasso artístico do projeto. Há de se olhar as coisas com olhos mais carinhosos.
O Tempo Não Pára, que seria um título mais satisfatório e menos auto-referente, perdão pelo clichê, é um filme muito honesto, talvez o mais honesto dos últimos tempos na cinematografia brasileira. Sapientíssimos de suas limitações formais e ideológicas, os roteiristas realizaram bastante na sua tentativa de explorar o bastidor do ídolo, o ícone sob a máscara. O texto bem escrito (há exceções pontuais) encontra boa tradução no trabalho dos atores. Daniel Oliveira assume trejeitos e entrega um Cazuza, no mínimo, sincero. No máximo, espetacular. Não sei até que ponto sua interpretação decorre da imitação, mas reproduzir não induz de alguma forma tradução?
O filme é bem coerente com sua proposta, mesmo reproduzindo um discurso pré-fabricado, oficial e de abrangência restrita. Há saldo no fim das contas. A fotografia, creditada ao co-diretor Walter Carvalho, encontra ângulos inquietos e uma cor nostálgica. O Rio de Janeiro dos anos de Cazuza, eu nunca conheci. Mas confesso que tive saudade. O filme me fez relembrar parte da infância e adolescência que haviam se perdido porque aquilo nunca significou muito – e talvez ainda seja assim. Quem dá significação sou eu, é você. Eu que já andei pelos quatro do mundo (ouvindo suas canções, sem encontrar identificação ou poesia), foi justamente num filme que ele me falou, veja só…
Cazuza – O Tempo Não Pára
[Cazuza – O Tempo Não Pára, Sandra Werneck e Walter Carvalho, 2004]
otimo filme