TODAS AS COISAS SÃO BELAS

Júlio Bressane supera seu cinema com uma ode à beleza

Confissão: vi pouco e não sou fã de Júlio Bressane. Mas Filme de Amor me tomou de tal forma que vou escrever este texto na primeira pessoa, o que faço restritas vezes. O novo trabalho do diretor (diretor marginal talvez uma forma muito arcaica de se referir ao homem) é um filme com o explícito objetivo de subverter. A primeira vítima de Bressane é o cotidiano, que limita, massacra e reduz os três protagonistas a dias parcos e histórias mínimas. A revelação está entre as cenas finais do longa, que se apresenta com a chegada de um homem e duas mulheres a um apartamento, onde, durante um fim-de-semana, haverá a celebração da beleza, do prazer e do amor.

Bressane nunca se prendeu às formas narrativas tradicionais. Seu cinema é muito mais de impressões que de histórias. Em Filme de Amor, não é diferente. O fiapo que o cineasta joga para que o espectador não se perca nos seus devaneios estéticos é apenas condutor para a ode que ele pretende. Uma ode a tudo que é belo, divino e profano. O filme reproduz com seus atores telas de pintores mitificados e sobrepõe textos de autores que filosofam sobre o erotismo e a plenitude. A fotografia de Walter Carvalho, talvez o melhor fotógrafo em atividade, traduz na concepção de imagens mais perfeita que – ouso dizer – o cinema brasileiro já viu toda a explosão de Bressane.

A proposta poderia resultar em pura masturbação intelectual, mas com sua a releitura do mito das três Graças, o diretor consegue dialogar com o sublime e atingir um patamar muito próximo ao divino. Um ponto capaz de fazer seus personagens voarem para longe de prisões formais em busca de algo além. É a criação que brota do caos.

FILME DE AMOR
Filme de Amor, Brasil, 2003.

Direção: Júlio Bressane.

Roteiro: Júlio Bressane e Rosa Dias.

Elenco: Bel Garcia, Josie Antello e Fernando Eiras.

Fotografia: Walter Carvalho. Montagem: Virgínia Flores. Direção de Arte: Moa Batsow. Música: Guilherme Vaz. Figurinos: Helen Milet. Produção: Tarcisio Vidigal e Lúcia Fares.

nas picapes: My Way, Sex Pistols.

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