Intervenção Divina é um filme difícil de explicar. E talvez não seja tão fácil de entender. A complexidade do longa de Elia Suleiman reside na sua transformação. A princípio, o filme reproduz o modelo clássico do cinema do Oriente Médio, brincando com o cotidiano. Suleiman faz do espectador um voyeur de várias cenas do dia-a-dia em Israel. Cenas que se reproduzem com o passar do tempo e que revelam as ironias, incongruências e idiossincrasias da coletividade. Com habilidade, cria elementos cômicos tanto quanto situações dramáticas. Passeia pelo alegre e pelo triste. Não explica, não reduz, não relativiza. Apresenta.

Mas um filme passado em Israel, como bem se sabe, não poderia ignorar a guerra sem fim contra a Palestina: os muros, as barricadas, o militarismo, a separação. E aí, Suleiman, com mais maestria ainda, transfere sua estrutura circular para o cotidiano dos arredores da batalha. E, com prudência, revela na repetição a incoerência do conflito. Não mostra mortes, troca de tiros e homens-bomba. O que interessa ao cineasta é quem está em volta: ele mesmo, seus vizinhos ou sua família. Terminando por aqui, já teria feito um belo filme, mas o plano de Elia Suleiman era mais ambicioso. E ele recorre ao fantástico para dizer que odeia muito tudo aquilo ali: a guerra entre Israel e Palestina, ou entre israelenses e palestinos é tão cinematográfica que só o implausível, o impossível tem sentido. Um conflito que precisa de efeitos especiais para parecer mais perto do fim. O que não tem explicação não precisa ser explicado.

Intervenção Divina EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Yadon Ilaheyya, Elia Suleiman, 2002]

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