Numa estimativa positiva, eu sou uma das oito pessoas que gostam de verdade de A Dama na Água, o filme em que M. Night Shyamalan, os críticos e o público brigaram de vez. Na minha opinião, a entrega do cineasta à fábula de uma maneira tão intensa era um passo a mais em seu cinema, onde o truque sempre foi um artifício fundamental. Por conta disso, minhas expectativas em relação a Fim dos Tempos, uma incursão do diretor no cinema-catástrofe eram bastante altas, mas a verdade é que esse novo filme é uma decepção.
O indiano se mantém longe das armadilhas de roteiro (que funcionaram muito bem em Sexto Sentido e que parecem meio simplórias ao final de A Vila), trocando-as por uma narrativa clássica do gênero que mimetiza, sobretudo, o que o cinema scifi fazia nos anos 50. Sem muito charme. A estrutura é, guardando as devidas proporções, a de um Vampiro de Almas, de Don Siegel, com o processo gradativo de isolamento do protagonista diante de um inimigo aparentemente invencível.
O problema é que a “mensagem”, coisa de que Shyamalan não consegue se livrar, é muito óbvia – e nunca consegue fazer com o que o espectador compre muito bem a idéia do filme. As cenas de ataque da ameaça misteriosa são, muitas vezes, ridículas, colocando em risco qualquer credibilidade que o longa tenha conseguido em momentos isolados. A forma escolhida para que o inimigo se manifeste é primária.
Além disso, esse pacote cheio de bom mocismo não combina com o que os atores fazem (ou foram orientados a fazer) com seus personagens. Mark Wahlberg, geralmente um ator muito competente, tem momentos constrangedores, escolhendo um tom ora melodramático, ora bufão para interpretar. Zooey Deschanel, tão lindinha, está abobalhada do começo ao fim do filme. Imagino que Shyamalan tenha tentado, neste quesito, emular mais uma vez o que o cinema fantástico fazia há cinqüenta anos. Parece uma aposta esquisita já que, teoricamente, o filme tem a intenção de ser levado a sério.
Resumindo, não há os sustos de Sinais, seu longa mais fraco até então, o subtexto de A Vila e Corpo Fechado, a boa sacada de Sexto Sentido ou a simplicidade de A Dama na Água. Este Fim dos Tempos não vai para lá nem para cá. E isso é um grande problema quando você está sendo perseguido.
Fim dos Tempos
[The Happening, M. Night Shyamalan, 2008]