A cena final de Capitão Phillips é o momento em que Paul Greengrass abre espaço para Tom Hanks explorar todo o seu potencial dramático, que fica em segundo plano ao longo do filme, emocionalmente econômico como o cineasta sempre tende a ser. É uma sequência comovente, um anti-clímax para um filme repleto deles, que nos lembra do quanto este ator pode oferecer quando está no projeto que permite isso.
É o único momento de respiro no filme de Greengrass, que toma para si uma história real, a do sequestro de um navio cargueiro americano por piratas somalis, e conta esta história do seu jeito. Repete a mesma fórmula que empregou para dirigir Voo 93 e Domingo Sangrento, outros dois filmes baseados em fatos e personagens reais, com uma fotografia e uma montagem orgânicas, como manda a moda, que simulam a “vida real” da melhor maneira que podem.
Neste novo filme, o diretor usa a câmera nervosa de uma maneira equilibradíssima, como poucos cineastas conseguem. As imagens tremidas geralmente se resolvem em si, são um artifício para dar credibilidade ao material, mas Greengrass administra sua câmera trêmula com uma habilidade impressionante, justificando-a a cada momento, sobretudo na primeira parte do filme, a ameaça da invasão e a invasão do navio em si.
Não é à tôa que esta é a parte que mais funciona em Capitão Phillips. O thriller factual de Greengrass acerta na forma, no protagonista e encontra no novato Barkhad Abdi um ponto de ebulição sensacional. Sem experiência como ator, o somali criado nos Estados Unidos, que trabalhava como motorista, se revela um monstro em cena. O talento do homem só vai ser afirmado no próximo papel, embora seu tipo físico o condene a estereótipos, mas o que ele faz neste filme é realmente impressionante.
O problema é que, depois que os personagens principais abandonam o navio, o longa cai num incômodo mar de lugares comuns. Greengrass tenta criticar o militarismo americano gigantizando a operação de resgate do capitão, mas o efeito é dúbio porque o desfecho do filme parece, mesmo que não queira, justificando os métodos utilizados. Este terço final faz o filme perder muito de seu impacto inicial. A cena que encerra o filme, justamente The Tom Hanks Scene, ajuda a diluir a impressão, mas o baque, ali, já tinha acontecido.
Capitão Phillips
[Captain Phillips, Paul Greengrass, 2013]
Um pensamento sobre “Capitão Phillips”