ELA

Theodore vive no futuro, um futuro do presente. Um tempo inexato, mas muito próximo do nosso, onde não há naves espaciais, não há andróides, mas há sistemas operacionais inteligentes, como os de hoje, mas um pouco mais sofisticados. O personagem principal de Ela ganha a vida escrevendo cartas de amor para pessoas que nunca escreveram cartas de amor. É um solitário, que não consegue se libertar um casamento acabado. Mora num mundo onde a ficção-científica é possível e o relacionamento interpessoal cada vez mais raro. Nesse ambiente, apenas um passo adiante do que já vivemos hoje, Spike Jonze pergunta: como vai ser o amor?

A forma como as pessoas se relacionam tem sofrido mais transformações nos últimos anos do que qualquer outro aspecto da vida. A máquina virou intermediária para a construção dos relacionamentos: elas dão voz para quem nunca teria a oportunidade de se conhecer, organiza nossa vida em linhas do tempo, nos apresenta amores, amantes, amigos. Jonze, um entusiasta das novas possibilidades, quer saber o que pode acontecer quando a máquina deixar de ser o intermediário e passar a ser o fim. O cineasta radicaliza a discussão sobre o amor nos tempos virtuais ao mostrar seu protagonista apaixonado pela voz de comando de seu computador.

Havia muitos riscos envolvidos, mas Jonze dribla todos eles. Evita sistemas totalitários ou simplesmente caóticos que pudessem movimentar a trama ou justificar acontecimentos. As condições que o personagem encontra são quase as mesmas que temos hoje. Por outro lado, seria muito fácil duvidar da possibilidade de uma relação assim, mas o cineasta nunca questiona a natureza ou a validade do encontro entre Theodore e Samantha. Para eles, os percalços que aparecem para o casal não são muito diferentes do que encontramos hoje em dia. Por sinal, o relacionamento entre os dois é recíproco. As cenas em que o casal sai as ruas para se divertir estão entre as mais belas do ano. E Scarlett Johansson está inspirada.

Spike Jonze também encontrou em Joaquin Phoenix um ator perfeito para materializar a sensibilidade do personagem. Ele ressalta a melancolia sincera do filme e valoriza cada caminhada solitária de Theodore por uma Shangai “do futuro”, que abriga o conceito da cidade grande que engole os homens. E os homens aqui são engolidos não por construções físicas, impérios sangrentos, guerras com máquinas, mas pelo próprio processo de isolamento a que a sociedade tecnológica os sujeita. E é nesse mundo em que se estabelecem novas conexões, que é construído a cada dia, que o personagem principal de Ela, experimenta, descobre, se põe à prova. Sem regras definidas, o futuro se oferece e cabe a cada um tentar domá-lo e compreendê-lo.

Ela  EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Her, Spike Jonze, 2013]

Comentários

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6 comentários sobre “Ela”

  1. Assisti este dia ontem (21/02) e fiquei muio sensibilizado. Achei muito bem realizado no contexto, interpretação muito show. achei que o filme reforçou muito que a população não sabe como se comportar num encontro cara á cara e sim mais virtual.

  2. Dos indicados ao oscar de melhor filme esse ano Achei “ELA ” disparado o melhor filme. Aumentou ainda mais a minha admiração por Spike Jonze e Joaquin Phoenix. Chico , tenho umas perguntas sobre a sua pessoa só por curiosidade; se vc pudesse responder eu agradeceria.
    1- vc coleciona filmes ? quantos titulos em media vc tem ?
    2- De que mais vc gosta, livros, musica ( cantor ou banda favorita ), teatro, quadrinhos, futebol…?
    3- Vc acha que a midia fisica vai sumir no futuro ? Eu por exemplo odeio ler livros ou hq no computador más…

  3. Uma obra linda e atual.Não sei a sua opnião Chico,mas estamos vivendo uma safra de filmes excelentes que ha muitos anos não se via.Falo isso por que além desse filme,achei maravilhosos gravidade,12 anos,o lobo de wall street,a caça,azul é a cor mais quente. E achei bom Dallas buyers club e nebraska.

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