A Estirpe dos Malditos

Não é sempre que escrevo no blogue sobre filmes antigos, mas quando eles entram para a lista dos melhores de sua vida, alguma coisa precisa ser dita. A Estirpe dos Malditos, filme dirigido pelo britânico Anton M. Leader em 1963, me deu um baque. Primeiro, preciso confessar que confundi o filme com A Aldeia dos Malditos, lançado três anos antes, objeto de culto e alvo de um remake feito por John Carpenter nos anos 90. O filme de Leader é uma continuação do longa original. Uma continuação às avessas, diga-se de passagem.

Na verdade, o filme de 1963 aproveita apenas a ideia de crianças estranhas com poderes telepáticos e olhos brilhantes. As semelhanças param por aí. O longa original, que eu vi, curioso, um dia depois de assistir embasbacado a sua seqüência, trata de acontecimentos esquisitos numa cidadezinha britânica que culminam com o nascimento de crianças loiras que conseguem ler mentes e manipular pessoas. O filme é quase que uma versão britpop dos longas de ficção-científica popularescos dos anos 50 que faziam alusão à Guerra Fria. É diversão com alguma inteligência, mas esbarra num texto pobre, numa encenação apressada e em conceitos mais imediatistas.

Já o filme de Leader, que à primeira vista parece uma continuação picareta, surpreende desde a abertura, com stills incomuns do personagem principal, Paul. As cenas seguintes revelam um elaborado trabalho de fotografia, que serve de apoio para um dos melhores filmes políticos que eu já vi. Hoje em dia, é facil classificá-lo como datado, mas eu custo a lembrar de ver a Guerra Fria ser tão bem traduzida num longa-metragem. O roteiro, correndo o risco da adjetivação, é inteligentíssimo e completamente metafórico; o retrato de uma época e, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre intolerância étnica.

Apesar dos olhinhos brilhantes parecem ingênuos, a construção visual é requintadísima, com a fotografia, a montagem e os efeitos muito acima do que se poderia esperar de um diretor inexperiente. Leader, no entanto, fez carreira em TV, assinando episódios de séries clássicas como Agente 86 e Além da Imaginação. Mais requintado do que sua plástica é o texto do filme, ou melhor, o subtexto que recheia cada cena, que ora é sarcástico, ora faz uma reflexão sobre abusos de poder, tensão bélica, conspirações e medo do desconhecido.

Na minha próxima lista de filmes favoritos essa obra-prima chamada A Estirpe dos Malditos terá lugar privilegiado.

A Aldeia dos Malditos EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Village of the Damned, Wolf Rilla, 1960]

A Estirpe dos Malditos EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Children of the Damned, Anton M. Leader, 1963]

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4 comentários sobre “A Aldeia dos Malditos / A Estirpe dos Maditos”

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