Ai do romântico, tadinho, que perdeu espaço neste mundo. Hoje em dia, as estripulias narrativas e visuais merecem muito mais atenção do que a velha e boa história de amor. Filme bom que é filme bom tem que refletir sobre o mundo moderno, a contemporaneidade, os signos do nosso cotidiano. Num cenário onde Lars Von Trier, Michael Moore ou Todd Solondz são nossos cineastas críticos, artistas inconformados, pensadores iconoclastas, um filme como A Casa do Lago é de uma ingenuidade absurda, inaceitável.
Um melodrama clássico sobre amor impossível, com estrutura fundalmentalmente ligada ao fantástico, estrelado por dois atores simpáticos, porém ruins? Putz! Um filme para o qual não existiria um diretor correto se Alejandro Agresti, cineasta dos belíssimos Valentín e Um Mundo Menos Pior, não tivesse resolvido encarar Hollywood. Talvez não seja muita ousadia dizer que Agresti é o melhor diretor de melodramas atualmente em atividade. Além de um respeito enorme às regras de um tipo de cinema quase moribundo, o argentino sabe dar frescor a sua trama.
A Casa do Lago é, então, um filme à moda antiga, nunca um filme velho. Se faltou uma personagem para Julieta Cardinali iluminar a tela, o diretor soube transformar a canastrice de Keanu Reeves em esforço e a limitação de Sandra Bullock em simpatia. Os dois funcionam perfeitamente. E sua busca pelo duplo, para por fim à solidão – coisa bem antiquada, né? -, sempre dá certo graças a mão suave de Agresti. Pena que ele ainda perca tempo em algumas cenas com tramas paralelas porque este filme dá certo sempre, sem exceções, toda vez que a história principal está em foco. O filme poderia muito bem só ter as cenas das cartas e seria ainda melhor. É, parece que há salvação para o romântico.
[a casa do lago ]
direção: Alejando Agresti.
roteiro: David Auburn, baseado em roteiro de Ji-na Yeo e Eun-Jeong Kim.
elenco: Keanu Reeves, Sandra Bullock, Shohreh Aghdashloo, Christopher Plummer, Ebon Moss-Bachrach, Willeke van Ammelrooy, Dylan Walsh, Lynn Collins, Mike Bacarella, Cynthia Kaye McWilliams, Nora Newbrough, Jason Wells, Scott Elias, Kevin Brennan.
fotografia: Alar Kivilo. montagem: Alejandro Brodersohn e Lynzee Klingman. música: Rachel Portman. desenho de produção: Nathan Crowley. figurinos: Deena Appel. produção: Doug Davison e Roy Lee. site oficial: A Casa do Lago. duração: 105 min. The Lake House, Estados Unidos, 2006.
nas picapes: [this never happened before, paul mccartney]
Também não achei longo. Apenas teria ficado melhor se o final tivesse sido abreviado.
Eu não achei o filme nada longo, Marcelo.
Bom, já falamos sobre no MSN. Acrescento que funciona porque é previsível e satisfatório _mas poderia ter terminado um pouquinho antes…
Não imaginava que o filme fosse tão romântico, até porque ainda é necessário embarcar na fantasia da trama, excelente estréia de Agresti em Hollywood.
Chico, você aguçou a minha curiosidade!
Acho que um filme romântico (desde que bem feito) cai bem, sim, de vez em quando. Até mesmo pra tirar um pouco do gosto amargo que outros filmes deixam.
Adorei o post!
É uma pena não poder votar nela, Tiago.
Eu gosto do truque de roteiro, sim. “Feitiço do tempo” me veio à memória.
Estou louco pra ver esse filme e torcendo pra que estreie aqui na quinta. Cruzando os dedos.
Não é não, Chico. Essa música é do disco mais recente dele, “Chaos and creation in the backyard”. A trilha sonora do filme realmente é fenomental: abre com Magic Numbers, e depois tem ainda duas do Nick Drake. Ótima mesmo.
Agora, tenho algumas ressalvas sobre o filme. Gosto bastante da direção (acho que salva quase todos os problemas do roteiro), mas acho que a situação fica complicada pro Agresti naquele final, com truquezinho à “De volta para o futuro”. No mais, foi uma boa surpresa.
Acho que a do Macca é original, vale indicação pro Alfred!
Agora sim. 😀
Grande cena – acho que a cena que melhor resume o filme – aquela em que estão ambos sentados em bancos do mesmo parque, mas obviamente em épocas distintas. Dois planos diferentes fundidos em um só.
E a coletânea de canções é ótima.