Confesso que não havia lido nada sobre A Serbian Film até a polêmica sobre a proibição de sua exibição num festival de cinema no Rio de Janeiro. Minto. Já havia visto um post dedicado a ele num site para downloads e, em seguida, descobri que ele estava programado para estrear em circuito. Fiquei interessado por se tratar de um filme de terror europeu. Mas não li uma linha sobre sua sinopse e ele foi parar lá no fundo da memória.

O advento da censura me fez querer saber sobre o que se tratava o filme. Descobri qual era a polêmica e resolvi assisti-lo já que sua exibição no Brasil me parecia duvidosa. E, para minha surpresa, a versão que vi do longa de Srdjan Spasojevic, que talvez apresente cortes, me pareceu menos repugnante do que seus censores gostariam. Não havia um espetáculo de sangue e poucas coisas além de uns sopapos numa atriz eram “explícitos”.

As cenas que mais geraram discussão, uma de incesto e uma de violência sexual contra um bebê, eram gratuitas, mas em sua intenção e não em seu conteúdo visual. Elas insinuam os eventos, fazem nossos estômagos se retorcerem pelo que imaginamos e não pelo que mostram. Na verdade, o tão polêmico filme sérvio é bem comportado, medroso, muito mais soft visualmente do que O Albergue ou Jogos Mortais.

Não que isso signifique que A Serbian Film seja um bom filme. Está bem longe disso. Se não fosse pelo episódio da censura, provavelmente eu nem perderia tempo escrevendo sobre ele, um daqueles longas de tortura que estavam na moda até uns dois anos atrás que têm uma única intenção: faturar em cima do choque. Mas, ao contrário dos outros, mostra muito pouco, quase nada. Reforço: pelo menos na versão que eu vi, que pode apresentar cortes. E é aí que surge o que talvez dê para chamar de seu único mérito: ele desperta um desconforto que existe dentro do espectador. Ele não vê nada, mas imagina a “aberração”.

É curioso como um filme ruim, banal, vulgar, funciona como catalisador de julgamentos. A decisão de proibir um filme que “peca” pela intenção é bizarra. Os cariocas – e os brasileiros – deveriam ser capazes de decidir o que querem ver ou não. Todos os filmes que “mostram” tabus devem ser proibidos? Suicídios, assassinatos e estupros nunca devem aparecer em filmes porque são comportamentos “errados”? Não defendo A Serbian Film. Por sinal, se me perguntassem, meu conselho seria: não merece ser visto. Mas eu defendo o direito de cada cidadão decidir se quer vê-lo ou não. O único vitorioso num episódio como esse acontecido no Rio é o autoritarismo que o Brasil queria ter deixado para trás.

A Serbian Film – Terror sem Limites Estrelinha
[Srpski Film, Srdjan Spasojevic, 2010]

Comentários

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7 comentários sobre “A Serbian Film – Terror Sem Limites”

  1. O filme já está integralmente liberado desde agosto de 2012. E é para adultos, pessoas de cabeça feita, vida sexual definida, gente não influenciável por besteiras. Chocante e só. Quem superarou a cena do extintor em Irreversível, sem frescurites, não vai chorar.

    1. O texto foi escrito bem antes disso, Carlo. E a questão não ser “macho” o suficiente para “aguentar” o filme, mas fazer um filme risível como este sem muito propósito além de chamar atenção.

  2. Não tenho a mínima vontade de assistir. Muito já foi dito, pouco o filme parece ter de revelante – quase nada. E agora que foi proibido no país inteiro, então, aí é que vou manter distância.

    Porém, num final de semana que eu não tenha nada melhor pra fazer… Quem sabe?

    Abração.

  3. Chico, é um filme que foi feito para os fãs do horror, fãs do cinema extremo. Ele nos obriga a pensar em algo primário: foi feito para quem?

    E isso, pra mim, é uma virtude louvável.

  4. Chico, é um filme que foi feito para os fãs do horror, fãs do cinema extremo. Ele nos obriga a pensar em algo primário: foi feito para quem?

    E isso, pra mim, é uma virtude louvável.

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