Segredos de família
Não que eu seja um especialista no diretor, mas
A Vida Secreta dos Dentistas parece ser o melhor filme de Alan Rudolph. Aqui, apesar da invenção narrativa, o tom pedante que se sobressai em outros longas do cineasta é completamente diluído no bom texto e nas boas interpretações de Campbell Scott e Hope Davis, nesta crônica sobre fidelidade e casamento. Ao contrário de outros filmes que chegaram aos cinemas neste ano e versam sobre o mesmo tema, a traição não é o foco da história contada por Rudolph, mas a relação de parceria e dependência entre o homem e a mulher. Fugindo de um esquemático modelo melodramático comum a histórias do tipo, o filme se estrutura num clima entre o nonsense, o melancólico e blasé, onde as personagens revelam suas fragilidades pouco a pouco. O viés psicológico de se aproveitar de elementos do seu dia-a-dia para rearranjar uma ordem realista funciona muito bem, embora a personagem de Denis Leary aparece exageradamente. Campbell Scott tem uma interpretação surpreendente: praticamente segura o filme nas costas já que o papel de Hope Davis, bem também, vai diminuindo a cada momento. O filme mais estranho do ano. Inclusive porque é muito bom.
A Vida Secreta dos Dentistas
The Secret Lives of Dentists, Estados Unidos, 2002.
Direção: Alan Rudolph.
Roteiro: Craig Lucas, a partir da novela The Age of Grief, de Jane Smiley.
Elenco: Campbell Scott, Hope Davis, Denis Leary, Robin Tunney, Peter Samuel, Jon Patrick Walker, Gianna Beleno, Lydia Jordan, Cassidy Hinkle, Adele D’Man.
Fotografia: Florian Ballhaus. Montagem: Andy Keir. Direção de Arte: Ted Glass. Música: Gary DeMichele. Figurinos: Amy Westcott. Produção: Campbell Scott e George VanBuskirk. Duração: 104 min.
rodapé: o curta Vinil Verde, de Kléber Mendonça Filho, é ótimo. Simples, muito bem editado, sonorizado e fotografado (embora não exiba nenhuma grande novidade); um pequeno conto de horror para crianças narrado em off num tom absolutamente encantador.
nas picapes: Mandy, Barry Manillow.
Comentários
comentários
Mandy é clássica. Pode ser que a cópia do filme que está em cartaz aqui vá praí, Rodrigo. Acontece muito.
Foi o que eu mais gostei, Henrique.
Marcelo, o Vinil Verde é muito bom. Pena que não tem categoria para curta no Alfred.
Engraçado: eu acho que a Hope Davis está exagerada no Anti-herói, mas aqui elea está muito bem.
Gosto muito da Hope Davis no “Anti-Herói Americano”, mas passei longe deste filme _acho o fim da picada filmes com títulos ruins (mesmo que sejam bons).
Tenho muita vontade de ver o “Vinil Verde”, todos andam dizendo que é bom.
Concordo que é um filme muito estranho. O tom do filme é muito bom.
Tenho vontade de ver Vida Secreta dos Dentitas, mas ainda não chegou em Fortaleza (e nem sei se chegará). E Mandy é uma bela música brega sentimental.