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As reviravoltas das tramas de M. Night Shyamalan indicam que seu temor é não ser um autor

Sejamos bem diretos: A Vila, o último trabalho de M. Night Shyamalan, é uma grande bobagem. Para além da excelente trilha sonora composta por James Newton Howard e executada por um violinista cujo nome não vem à memória agora, o filme é de muita pretensão e pouca eficiência na execução. O grande desacerto de Shyamalan é que sua idéia original era boa demais para um roteiro que não sabe desenvolvê-la bem. O longa é um filme de sustos, sim. Existem pelo menos uns três dos bons. Fazer um filme de sustos não faz vergonha para ninguém. Mas Shyamalan provavelmente achou que isso fosse pouco e resolveu recorrer à tática que o cinema atual redescobriu cinco anos atrás com um roteiro escrito por ele mesmo, Sexto Sentido (um filme muito eficiente), e redefinir a história apresentada ao espectador.

Quando isso é bem feito, maravilha. Quando o roteirista não consegue dar fluidez ao texto para que se apresente as situações com a verossimilhança necessária para uma virada tão abrupta, todo o trabalho de uma equipe inteira vai por água abaixo. Entenda: a questão não é abolir ou afastar a transgressão, que parece ser a principal justificativa do cinema de M. Night Shyamalan. Além de extremamente saudável, buscar a transgressão, seja sob que prisma ela apareça, é algo necessário para diferenciar gente que tem algo a dizer de gente que está aí para reproduzir. Nesse sentido, o cineasta merece aplausos. Ele realmente tenta criar. Criar, sobretudo, um estilo, uma marca, uma obra. Mas ou suas visões do mundo são primárias ou ele não consegue dar a executabilidade necessária para embasar seu discurso.

A Vila parece querer denunciar. Seus defensores (e eles são muitos e muitos deles são gente por quem eu tenho muita admiração) enxergam no filme uma crítica – ou ainda um ensaio sobre – à formação do povo norte-americano, que versa sobre como este povo foi construído (e reconstruído) sobre terreno pantanoso, idéias frágéis, alienação. Pode até ser. Mas Shyamalan se empenha com tanta dedicação a sua criação, que se aparta de sua trama para nos revelar, ainda que sem querer, o processo. Existe uma necessidade quase que obrigatória de se explicar em texto o que está acontecendo, como quando William Hurt revela parte de sua farsa a Bryce Dallas Howard (cuja interpretação é nada mais que “espertinha”) ou quando o próprio diretor, na sua já tradicional participaçãozinha (ponta é pouco) mostra que “não é de hoje…”. Ora, se falta consistência à tentativa de mensagem de uma trama mal costurada, sobra o quê?

A VILA
The Village, Estados Unidos, 2004.

Direção e Roteiro: M. Night Shyamalan.

Elenco: Bryce Dallas Howard, Joaquin Phoenix, William Hurt, Sigourney Weaver, Adrien Brody, Brendan Gleeson, Cherry Jones, Celia Weston, John Christopher Jones, Frank Collison, Jayne Atkinson, Judy Greer, Fran Kranz, Michael Pitt, Jesse Eisenberg, M. Night Shyamalan.

Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Christopher Tellefsen. Direção de Arte: Tom Foden. Música: James Newton Howard. Figurinos: Ann Roth. Produção: Sam Mercer, Scott Rudin e M. Night Shyamalan. Site Oficial: www.thevillage.movies.go.com.

nas picapes: Lady Jane, The Rolling Stones.

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