O AMOR É FILME

Nick Cassavetes e todos os clichês do folhetim que minha tia adorava

Já faz alguns anos que minha tia Leninha já não está mais por estas bandas, mas há uma coisa que não me sai da cabeça quando eu lembro dela: sua coleção – enorme ? de livros destinados ao público feminino, vendidos em bancas de revista. A tia Leninha adorava as dramáticas histórias de amor maior que tudo que aquelas folhas de papel jornal guardavam. Histórias de reviravoltas magníficas onde não havia limites para o amor. Caso tivesse visto Diário de uma Paixão, a tia Leninha provavelmente o incluiria entre seus filmes favoritos. Parece um filme feito especialmente para ela, que passou a vida sonhando com amores perfeitos e ilimitados.

Confesso que o trailer, o cartaz com um erro grosseiro de português e o plot não haviam me despertado o mínimo interesse em assistir ao filme, o que só aconteceu para apresentar meu amigo Guilherme Lamenha a uma das salas de cinema de Salvador. Diário de uma Paixão me cheirava a filme feito para ganhar dinheiro fácil, sobretudo de mulheres em busca do amor perdido. Parecia mal feito, rasteiro, com poucos encantamentos. A presença de Gena Rowland me fez divagar sobre Nick Cassavetes fazer filmes para empregar a mãe. A primeira meia hora de projeção não mudou muito esta idéia e garantiu bocejos e até rápidas cochiladas. Até que algo mudou.

Cassavetes aos poucos revela que sua trama é mesmo uma básica e clássica história de amor, mas vai além. Ele mergulha profundamente nas entranhas (no que isso remeta ao sexo, também) do folhetim tipicamente norte-americano. Ao contrário de outro grande filme-clichê do ano, Minha Vida Sem Mim, de Isabel Coixet, ele não se apropria e transforma os elementos do gênero, mas apenas reproduz o melodrama com propriedade. O que diferencia o filme de Cassavetes dos de seus colegas é que ele acredita no que filma, seja quando coloca seu casal de protagonistas no meio de um enorme grupo de cisnes brancos ou quando ignora a verossimilhança em nome de uma das mais bem resolvidas cenas finais dos últimos tempos no cinema romântico. Diário de uma Paixão é completamente honesto e puro. Como a tia Leninha achava que as histórias de amor deveriam ser. Haja coração.

DIÁRIO DE UMA PAIXÃO
The Notebook, EUA, 2004.

Direção: Nick Cassavetes.

Roteiro: Jeremy Leven, baseado na novela The Notebook, de Nicholas Sparks (adaptada por Jan Sardi).

Elenco: Ryan Gosling, Rachel McAdams, James Garner, Gena Rowlands, James Marsden, Sam Shepard, David Thornton, Joan Allen, Kevin Connolly, Tim Ivey.

Fotografia: Robert Fraisse. Montagem: Alan Heim. Direção de Arte: Sarah Knowles. Música: Aaron Zigman. Figurinos: Karyn Wagner. Produção: Lynn Harris e Mark Johnson. Site Oficial: www.thenotebookmovie.com.

nas picapes: Lisbela, Los Hermanos.

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