Tudo causado pelo choque do homem com o ambiente, que ganhou um tratamento assustador do roteiro e da direção. O medo é sugerido pela fotografia, pela trilha, pela montagem, pelos cenários; é um trabalho exemplar de transformação do espaço em que se desenvolve a trama no motor do susto. A sensação física é poderosa: o filme é claustrofóbico; o efeito, brutal. Mesmo quando a “história” propriamente dita começa a acontecer, não há decréscimo na capacidade que o filme de Neil Marshall tem de mexer fisicamente com o espectador.
Os detratores do filme provavelmente vão questionar a transformação das mulheres em soldados em campo de batalha – sim, num filme inglês, as seis personagens principais são feitas por mulheres – ou tentar ridicularizar a sub-trama de traição que o filme lança e que é realmente dispensável. Mas, digo e repito, fixar alguma avaliação sobre o filme nisso é, no mínimo, reducionista. Abismo do Medo não é um filme para ser analisado ou para gerar discussão porque seu imenso mérito é quase primitivo, lida com medo ancestral. É um filme para fazer você tremer na cadeira do cinema. E é o melhor do tipo que eu vi em muito, muito tempo. Conselho: leia o mínimo possível sobre o filme e vá sem medo de ter medo.
Abismo do Medo ½
[The Descent, Neil Marshall, 2006]
Fer, acho que eles se esgotaram. Eles, os orientais.
Julio, sinceramente acho que este filme é clássico. Traz um terror à moda antiga, mais verdadeiro, e não sujeito a truques digitais ou comédia gratuita.
Ivan, eu nem acho o subplot ruim, mas ele é menor ao meu ver. Acho que a prpopria situação já determinaria a transformação das personagens.
Marcelo, acho que classificar o filme do jeito que vc classificou foi injusto e não dá nenhuma pista sobre o filme.
pois é, nossos gostos para terror batem de frente, e muito. eu achei esse filme meio chato e sem porquê, mas por outro lado tenho amado sem exceção nenhuma todos os orientais q têm desembarcado aqui no Brasil (e q pelo q tu tem falado, tu não tem gostado muito, né?).
Oi Chico! Não acha que, frente ao atual panorama – em geral medíocre – dos filmes de terror/suspense, há uma supervalorização de produções que, no máximo, cumprem bem o seu “dever de casa”? Como você, percebo diversas qualidades nesse “Abismo”, mas sinto que falta ousar mais na forma e, principalmente, no conteúdo. A gramática do gênero já serviu de palco privilegiado para as insubmissões políticas de grandes diretores como Carpenter, Romero e Landis. O próprio Neil Marshall mostra que conhece do assunto, ao citar a clássica cena do “zumbi” submerso (lá do “Zombie” de Lucio Fulci). Agora, será demais pedir desses diretores novatos um pouquinho mais de rebeldia?