ADEUS, LÊNIN

A maior e melhor característica de Adeus, Lênin não é sua análise ou seu posicionamento crítico sobre a Alemanha que não deu certo, mas o carinho que o diretor mostra ao construir cada cena, ao apresentar cada personagem. O filme de Wolfgang Becker poderia recorrer ao estereótipo do filme de família, mas, ao contrário, abraça um realismo quase fantástico para falar de amor. Amor entre filho e mãe, sobretudo. Para ajudar sua mãe a se recuperar de um recém-saído estado de coma, o personagem de Daniel Bruhl, um ator surpreendente, resolve mudar a história. Ele restaura a Alemanha Oriental pré-derrubada do Muro de Berlim em depoimentos, vídeos forjados e vidros de pepinos em conserva. Tudo para evitar que a mãe, socialista de carteirinha – e ainda instável depois de despertar de um sono de sete meses, acredite que nada mudou. Mas sustentar um universo inteiro é complicado e o bom filho precisa fazer com que as mudanças na Alemanha aconteçam aos poucos. Aos poucos, Bruhl refaz a história e cria sua Alemanha perfeita. Comanda mudanças, abraça exilados e multinacionais. E o mundo de seus sonhos passados vai se tornando possível.

Wolfgang Becker quis retornar para sua Alemanha idealizada e fez essa viagem com carinho. A família protagonista revela um amor e um cuidado entre seus integrantes que pouco combinam com o estereótipo gélido do alemão comum. Daniel Bruhl comanda um elenco interadíssimo, onde quase todos têm seu destaque. Sua interpretação é tão despretensiosa e envolvente que torcer por sua personagem é obrigatório. Ao seu lado, Maria Simon, que foge das prisões de uma personagem maluquinha para nos entregar uma filha preocupada, e Chulpan Khamatova, com a namorada-enfermeira apaixonante. Mas Katrin Saß é quem tem a melhor cena do filme. Quando levanta da cama para olhar Berlim de perto, e vê Lênin voar sobre as ruas da cidade, a atriz representa um povo inteiro que viu seu passado de pedra ir embora pelos ares. Wolfgang Becker brinda ao fim das utopias, com delicadeza para não quebrar as taças.

Adeus, Lênin
Good Bye, Lenin, Alemanha, 2003
Direção: Wolfgang Becker.
Elenco: Daniel Brühl, Katrin Saß, Maria Simon, Chulpan Khamatova, Florian Lukas, Alexander Beyer, Burghart Klaußner, Michael Gwisdek, Jürgen Holtz, Jelena Kratz, Christine Schorn, Ernst-Georg Schwill.
Roteiro: Wolfgang Becker, Hendrik Handloegten, Bernd Lichtenberg e Achim von Borries. Produção: Stefan Arndt. Fotografia: Martin Kukula. Edição: Peter R. Adam. Direção de Arte: Lothar Holler (com Daniele Drobny). Figurinos: Aenne Plaumann. Música: Yann Tiersen (com música adicional de Xaver Naudascher).

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