Existe uma intenção pictórica em cada plano de Almas Silenciosas. O filme russo foi planejado e executado para ser (ou ao menos parecer) uma obra de arte, quadro a quadro. O resultado é uma sucessão de imagens belíssimas, emolduradas numa fotografia azulada, que tenta traduzir o cenário frio do interior do país. Mas o que é arquitetado para ser a maior qualidade do longa termina o enclausurando em sua proposta estética. O cineasta Aleksei Fedorchenko parece tomar para si a missão de emocionar o espectador, mas nem sempre consegue.
Miron pede ajuda a Aist para que possa fazer o funeral de sua mulher recém-falecida de acordo com as tradições da cultura méria, uma etnia que vivia às margens do Mar Negro e que guardava costumes de origem escandinava. O cadáver de Tanya se torna um personagem do filme, passando por todo o processo de preparação para a cerimônia de despedida, sequência que o diretor filma com a mesma beleza mórbida que tenta imprimir em todo o filme. A morte faz parte da vida, parece explicar Fedorchenko, que utiliza a premissa do falecimento de Tanya para revelar verdades tanto sobre ela quanto sobre a base da relação entre aqueles dois homens.
Existe uma fórmula em sua narrativa, que envolve desde a maneira didática e solene como Miron apresenta a história até uma certa insistência com pássaros que são comuns à região, que se revelam metáforas para os personagens vulgares que escondem segredos. Fedorchenko trata esse espaço misterioso entre os dois homens como um fim em si, não uma maneira de decifrá-los. Seu objetivo parece ser tão somente abrir clareiras no meio da floresta invisível que ele pinta no interior de seu país. Parece orgulhoso em expor seus personagens, desmascará-los, trazê-los para a luz do dia, não necessariamente para julgá-los, mas para condená-los por seus crimes, como se ao fim do filme, a única possibilidade de “justiça” tivesse sido feita. Da maneira mais plástica que poderia haver.
Almas Silenciosas ½
[Ovsyanki, Aleksei Fedorchenko, 2012]
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