AOS TREZE

Este parece ser o ano dos cineastas com coisas muito importantes a dizer. Vários filmes que estrearam em 2003 no Brasil são exemplos de que vem se tentando fazer um cinema engajado em vários pontos do globo terrestre. Não que isso seja necessariamente bom porque, em muitos casos, existe um gosto de autopromoção ou de pouca profundidade. O certo é que adotar um objetivo social para um filme é uma boa maneira de vendê-lo. Caso do maior dos promoters de si mesmo, o nosso querido Larry Clark, que depois de Kids (95), chegou aos cinemas brasileiros com um filme medíocre como Bully (01).

Clark escolheu uma missão no mundo: mostrar como a juventude – sobretudo a norte-americana – está deteriorada por uma suposta falta de direcionamento, que coloca as crianças e adolescentes num limbo de não-ação onde o alvo é o aleatório. Em sua tentativa risível de se justificar e reforçar sua tese, mr. Clark recria uma história real num filme primário, com personagens rasos, precários, patetizados. Seu filme mais recente, Ken Park (02), destaque da Mostra de Cinema de São Paulo no ano passado e do Festival do Rio em 2003, consegue ser tão oco quanto. Aposta em muitas cenas de sexo para chocar o público, como se a platéia disposta a sair de casa para assistir a um filme independente norte-americano caísse fácil em suas armadilhas para pegar indefesos cinéfilos de primeira viagem.

Em 2003, o Brasil também entrou na cena do choque por meio do pernambucano Amarelo Manga, de Cláudio Assis. O cineasta pretende com tanta ênfase mostrar a verdade das ruas na sua primeira experiência longa nas telas que consegue desperdiçar bons atores – em boas interpretações -, uma equipe técnica competente, estrelada pelo diretor de fotografia Walter Carvalho, e, o pior, a chance de fazer um bom filme nordestino, um bom filme fora do eixo Rio-São Paulo. Assis, em sua tola tentativa de chocar, mostra o close numa vagina, o abate de um boi e enche seu filme de frases de efeito que enganam apenas quem quer gostar do filme. E quando se quer, não há muito o que fazer.

Um pouco mais acima no mapa mundial está Michael Moore. O cineasta, que ficou mais famoso por xingar George W. Bush na festa do Oscar do que por seus filmes, fez Tiros em Columbine, que é um documentário realmente espetacular. Ou seria. Caso não ficasse tão clara a masturbação do senhor Moore, que assume o papel de grande salvador, do homem que aponta e resolve os problemas. Moore, que fez um excepcional trabalho de pesquisa para seu trabalho, joga fora quase tudo ao assumir quase sempre uma postura bastante desequilibrada frente às câmeras. Como um apresentador de programas de jornalismo policialesco, Moore desmascara farsas e determina soluções. Critica a violência com a violência. Faz questão de ressaltar sua incoerência.

O filme de estréia como cineasta da diretora de arte Catherine Hardwicke é um involuntário participante desta lista. A diretora cria um universo que cada vez mais se torna repetitivo, o do jovem perdido no mundo atual. Diferentemente de Larry Clark, Catherine Hardwicke tenta fazer um drama familiar. Quando foca seu roteiro nessa proposta, tem seus resultados mais consistentes, sobretudo por causa da bela performance de Holly Hunter, que há tempos não aparecia tão bem nas telas, e consegue uma boa química com Evan Rachel Wood. O problema é que para sustentar seu drama, Hardwicke investe no desenho caricato do jovem de hoje e sua relação com as drogas e a vida. Aí, Aos Treze vira um produto sub-Kids para justificar o surgimento de menininhas revoltadas que acham que Alanis Morrissette é a essência do que é radical. O filme tem embalagem de primeira – câmera inquieta, edição rápida e uma ótima trilha (tanto a instrumental quanto as canções) – e é bem melhor que a média porque tudo soa despretensioso e ingênuo. Para um filme de estréia, está bom. Para um filme satisfatório, nem tanto.

Aos Treze
Thirteen, EUA/Grã-Bretanha, 2003.
Direção: Catherine Hardwicke.
Elenco: Evan Rachel Wood, Nikki Reed, Holly Hunter, Jeremy Sisto, Brady Corbet, Deborah Kara Unger, Kip Pardue, Sarah Clarke, Vanessa Anne Hudgens, Ulysses Estrada, Sarah Cartwright, Jenicka Carey, Jasmine Salim, Tessa Ludwick, Cynthia Ettinger, Charles Duckworth, D.W. Moffett.
Roteiro: Catherine Hardwicke e Nikki Reed. Produção: Jeffrey Levy-Hinte e Michael London. Fotografia: Elliot Davis. Edição: Nancy Richardson. Direção de Arte: Carol Strober. Música: Mark Mothersbaugh. Figurinos: Cindy Evans.

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