Apenas Deus Perdoa

A personagem de Kristin Scott-Thomas em Apenas Deus Perdoa bem que merecia uma vaga no elenco de Drive, filme anterior do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn. O casamento seria mais fiel tanto à qualidade do longa do motorista solitário quanto à força da performance da atriz. A mãe do crime que a inglesa interpreta parece sempre estar à margem da história deste novo trabalho, basicamente um filme de samurais ultraviolento, estilizado e rodado na Tailândia, é mais um caso em que intenções nem sempre se transformam num bom produto final.

Apenas Deus Perdoa não é um filme ruim, mas parece refém de seu projeto estético, que é um projeto estético que Refn vem desenvolvendo há anos. O diretor segue uma espécie de jornada em busca do filme mais cromático possível, embalando as aventuras de seus personagens numa fotografia que abusa – abusa mesmo – de filtros e angulações e de uma direção de arte limpa, mas que quer parecer suja. A fotografia cria belíssimos quadros – muito valeriam ótimos posts exibicionistas nas redes sociais -, mas o filme nunca tem o mesmo impacto dos outros trabalhos do cineasta. É a cobra que morde o próprio rabo.

Refn até tenta: Ryan Gosling, em sua segunda parceria com o diretor, reprisa os cacoetes de seu protagonista em Drive, vivendo Julian o dono de uma academia de artes marciais em Bangcoc que se vê envolvido numa trama policial quando seu irmão é assassinado depois de ter cometido um estupro. A chegada da personagem de Scott-Thomas, insinua uma relação especial entre mãe e filhos, que parece tentar por uma espécie de Complexo de Édipo explicar alguns comportamentos, também insinuados, de Julian.

No entanto, Julian não parece ser o protagonista do filme. Vithaya Pansringarm, que faz o policial responsável por investigar o assassinato e que multiplica a violência do longa, é um samurai moderno, que, na composição de Refn, vive entre as ameaças e o karaokê. É ele que conduz a narrativa, é ele quem movimenta os outros personagens, é ele quem tem as cenas mais fortes da trama. Mas é ele também que tem sua função esvaziada pela preocupação excessiva com a estética. É ele que some entre as cores com que Refn emoldura Ryan Gosling e que fazem de Apenas Deus Perdoa somente um filme correto, um pecado para um diretor que já foi bem além.

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[Only God Forgives, Nicolas Winding Refn, 2013]

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