[tempo de guerra]


Engraçado. Esse filme foi massacrado sem razão; antipatia gratuita com seu diretor. Apesar de ser um melodrama convencional, tem méritos bastante incomuns para uma filme com seu contexto histórico. O primeiro é praticamente não ter ação: depois de pouco mais de 20 minutos, se percebe que As Torres Gêmeas é um filme sobre o resgate de policiais feridos no desabamento do World Trade Center. Ele – olha que interessante – deveriam ser heróis, mas não tiveram tempo para isso. Num filme que “deveria lavar a honra da América”, essa premissa é bem particular. Provavelmente foi isso que levou Oliver Stone para o projeto.

Ele não é bem o tipo de cineasta pronto para defender seu país. Seus filmes, geralmente equivocados e paranóicos, são feitos em boa parte para criticar os mecanismos estranhos da política norte-americana. Nas entrevistas, Stone fala que cansou de ser atacado pelos filmes que faz e, por isso, adotou uma linha apolítica. Eu diria que ele está menos explícito, mas a crítica está por toda parte: na falta de equipamentos dos policiais, na demora da circulação de informações e nas citações ao governo, mesmo que brandas. A política só não é o foco.

E, ainda que não tenha importância histórica, que não seja sobre o contexto do 11 de setembro de 2001, ainda que seja a história de duas famílias, ainda que recorra a uma espiritualidade de gosto duvidoso, que reprise frases feitas, esse filme me parece bastante honesto. E se Maggie Gyllenhaal, perfeita como a esposa que espera a volta do marido, seja a única que se destaca no elenco, todos estão eficientes. E quando Michael Peña cita um mandamento militar de Até o Limite da Honra para buscar forças, você percebe que não há apatia. Num país de vencedores, é lindo que esse filme mediano seja sobre quem não conseguiu vencer.

[as torres gêmeas ]
direção: Oliver Stone.
roteiro: Andrea Berloff.
elenco: Nicolas Cage, Michael Peña, Maggie Gyllenhaal, Maria Bello, Connor Paolo, Stephen Dorff, Frank Whaley, Stoney Westmoreland, Armando Riesco, Jay Hernandez, Jon Bernthal, Nick Damici, Jude Ciccolella, Nicholas Turturro, Danny Nucci.
fotografia: Seamus McGarvey. montagem: David Brenner e Julie Monroe. música: Craig Armstrong. desenho de produção: Jan Roefls. figurinos: Michael Dennison. produção: Moritz Borman, Debra Hill, Michael Shamberg, Stacey Sher e Oliver Stone. site oficial:
As Torres Gêmeas. duração: 129 min. World Trade Center, Estados Unidos, 2006.

nas picapes: [angie, rolling stones]

Comentários

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14 comentários sobre “[as torres gêmeas]”

  1. Achei o filme bem fraquinho, bem “super cine”. Gosto bastante do cinema paranóico de Oliver Stone, acho JFK um exercício brilhante de convencimento e Platoon e Nascido em 4 de Julho são filmes belíssimos. Acho que falta política sim em As Torres Gêmeas.

  2. Ailton, acho que não importa se foi delírio ou não. O Stone simplesmente não soube aproveitar essa informação. Ficou ridículo e provocou gargalhadas durante a sessão que eu acompanhei.

  3. Eu vejo o encontro com Jesus mais como um delírio do personagem, que estava desidratado, ferido e cansado. Tanto que Jesus trazia uma garrafa dágua. hehehe.. A Maria Bello estava usando lentes?

  4. A cena do encontro com Jesus é grotesca; pior do ano, de longe. E eu acho que o filme transforma sim aqueles dois personagens em vencedores e heróis (além de exaltar de modo muito babaca todo um nacionalismo insuportável, e além de ter aquela velha história sobre a importância da família, etc.). Merece mais que uma bola preta, ao meu ver.

  5. Eu também achei Jesus uma burrada, assim como os olhos azuis da Maria Bello (quase escrevo sobre eles).

    Tiago, duas porque eu um filme que não merece três, mas não merece também a bola preta da Folha.

  6. Assisti esse final de semana, mas foi de graça, porque senão ficaria longe. Aqueles olhos azuis da Maria Bello me incomodaram a sessão inteira! É verdade! A Maggie (a melhor coisa realmente) tenta salvar o filme, mas o papel é tão de coadjuvante que fica impossível;

  7. Eu desisti do filme na primeira aparição de Jesus.

    E, bom, se dois bombeiros que entraram nos prédios para salvar vítimas, foram soterrados por não sei quantas horas e saíram disso vivos não são vencedores “clássicos”…

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