ÉTICA SOBRE DUAS RODAS
Bicicletas de Pequim comete um estranho deslize: peca porque não julga
Existe um sério problema moral em Bicicletas de Pequim: dar um tratamento igual aos seus dois protagonistas, como se ambos estivessem numa mesma postura ética diante de um fato. O filme parte de um ponto muito bom: um adolescente ganha uma bicicleta da empresa onde trabalha e, à medida que ganha seu salário, justifica o presente… até que o instrumento de trabalho é roubado. De um outro lado, um jovem aparece na escola com uma bicicleta. Logo o espectador descobre em que condições desonestas foi conseguido o dinheiro para a compra. O veículo em questão nas duas situações era o mesmo. O diretor Wang Xiaoshuai, como ele mesmo brinca no decorrer do filme (citando A História de Qiu Ju, 92, Zhang Yimou), faz uma espécie de conto moral ao sabor do Oriente.
A intersecção entre os dois protagonistas é conduzida pela lógica do lucro-prejuízo. O filme, que cria vez por outra belíssimos quadros pelos quais você lembra do poder visual e simbólico dos cineastas chineses, se estrutura num duelo de poder e de posse sem que se dê importância às circusntâncias. O objeto do desejo passa de mão em mão até que as duas partes chegam a um acordo. O que parece importar aqui não é a moral da história, mas a dinâmica do processo, o que não é de todo uma visão ruim. O problema é ignorar o conflito entre certo e errado, que se explicita muito claramente desde o começo do longa-metragem. Essa opção narrativa termina eliminando interesses mais profundos sobre as histórias dos dois personagens e suas motivações, tanto que a resolução encontrada pelo roteiro parte de uma ação que não convence muito e termina reafirmando a idéia desse equilíbrio injusto entre as partes. Não é à toa que a melhor cena do filme seja quando, em meio ao corre-corre, os dois se apresentam.
BICICLETAS DE PEQUIM
Shiqi Sui de Dan Che, China/Taiwan, 2001.
Direção: Wang Xiaoshuai.
Roteiro: Wang Xiaoshuai, Peggy Chiao, Hsu Hsiao-ming e Danian Tang.
Elenco: Lin Cui, Bin Li, Xun Zhou, Yuanyuan Gao, Shuang Li, Yiwei Zhao, Yan Pang, Fangfei Zhou, Jian Xie, Yuhong Ma, Lei Liu e Mengnan Li.
Fotografia: Liu Jie. Montagem: Hsiao Ju-kuan e Yang Hongyu. Direção de Arte: Cao Anjun e Tsai Chao-yi. Música: Wang Feng. Figurinos: Pang Yan. Produção: Peggy Chiao, Sanping Han e Hsu Hsiao-ming.
nas picapes: Don’t Let Me Be Misunderstood, Santa Esmeralda.
naum eh q o filme peca pq naum julga, nohs eh q naum aprendemos a nos livrar dos dramalhoes mexicanos das nossas novelas e dos filmes hollywoodianos
Já que o Chico fala em moral…
Duas pressões sociais de igual força fazem os garotos quererem a bicicleta. Bicicletas de pequim não peca em não julgar porque não é moralista. O mundo é muito mais complexo do que o certo e errado que aprendemos quando eramos crianças. O telespectador que esperasse ver o errado ser punido e o bom ser recompensado deveria esperar ver o Guei se rebelar contra o patrão que apoiado em um sitema o explora e o pai do garoto que roubou o dinheiro da família para comprar a bicicleta roubada, pai esse que aparentou ser honesto, certo e dentro da moral, com condições de proporcionar ao filho a bicicleta.
Ou os moralistas deveriam esperar que todos fossem contra a pressão docial e o garoto(o que buscava afirmação) pudesse ser feliz sem a bicileta.
Só alguns pensamentos…