RÁPIDAS ANOTAÇÕES SOBRE TRÊS FILMES SEM PONTOS CONVERGENTES

Ou sobre como é possível criar um subtítulo quando não há unidade nos temas do texto

Hayao Miyazaki é o maior animador do cinema oriental, responsável por filmes que se tornaram clássicos, como o recente A Viagem de Chihiro (02). Seu cinema mistura um elaboradíssimo trabalho de concepção visual com a fantasia épica que habita a mitologia japonesa. Há exatos vinte anos, quando a ecologia ainda não era moda e o planeta não sonhava em discutir seu assassinato, fez um trabalho engajadíssimo a serviço da preservação ambiental, sem perder as características de sua obra. Náusica do Vale dos Ventos mostra a saga da princesa que batiza o filme num mundo devastado pelos efeitos da depredação. Parece burocrático, mas Miyazaki tem uma capacidade única para estruturar uma aventura sobre premissa com que trabalha. Ainda longe da eficiência narrativa de seu último e mais famoso longa, o cineasta esboça aqui a semente de uma cinema feito para crianças das mais diversas idades.

Narc merece a fama que teve. É um belo filme do estreante Joe Carnahan, que trabalhou com a premissa mais velha do cinema policial – a da dupla de métodos diferentes – e obteve um resultado exemplar, surpreendente. Narc acerta ao apostar no menos óbvio, nas soluções imagéticas de fotografia e montagem, criadas para dar o diferencial na narrativa, e na escolha dos protagonistas. Ray Liotta, bem acima da média do que costuma apresentar, e um Jason Patric entregue a um personagem com um tom difícil de encontrar – o que ele faz com precisão. Mas o ponto central aqui é que o filme é muito bem escrito, dribla os clichês e consegue uma eficiência impressionante. A cena que abre o filme, com câmera em movimento (que já não é nenhuma novidade, eu sei), é particularmente impressionante, de uma força visual incomum no atual cinema do gênero. Talvez a solução para o filme policial seja reiventar os clichês.

Psicopata Americano não merece a fama que teve. Não encontra o equilíbrio entre o policial sério que insinua ser e a comédia macabra em que parece tentar querer se transformar. O universo rico de Wall Street é artificial, os personagens são (mal) calculados e tom de sua meia hora final termina sendo tosco. Nem a tão comentada interpretação de Christian Bale, deformado pelos músculos que ganhou, cumpre sua função. Bale oscila e vacila entre o sarcástico e o patético, provavelmente prejudicado pelo personagem mal desenhado que recebeu. Realmente difícil identificar um caminho a seguir. E sendo assim, como seu protagonista, o filme não chega muito a lugar nenhum. Nem quando quer invadir uma personalidade doentia. Nem quando quer rir de todas as discussões que lançou.

NÁUSICA DO VALE DOS VENTOS
Kaze no Tani no Naushika/Nausicaä of the Valley of the Winds, Japão, 1984.
Direção e Roteiro: Hayao Miyazaki.
Elenco: Sumi Shimamoto, Mahito Tsujimura, Hisako Kyôda, Gorô Naya, Ichirô Nagai, Kôhei Miyauchi, Jôji Yanami, Minoru Yada.

Fotografia: Hideshi Kyonen. Montagem: Naoki Kaneko, Tomoko Kida e Shôji Saka. Direção de Arte: Mitsuki Nakamura. Música: Joe Hisaishi. Produção: Isao Takahata.

NARC
Narc, EUA, 2002.
Direção e Roteiro: Joe Carnahan.
Elenco: Jason Patric, Ray Liotta, Krista Bridges, Alan Van Sprang, Karen Robinson, Dan Leis, Lloyd Adams, Lina Felice, Alan C. Peterson, Chi McBride, Booth Savage, Busta Rhymes.
Fotografia: Alex Nepomniaschy. Montagem: John Gilroy. Direção de Arte: Greg Beale e Taavo Soodor. Música: Cliff Martinez, com música adicional de Tobias Enhus e Dan Kolton. Figurinos: Gersha Phillips. Produção: Michelle Grace, Ray Liotta, Diane Nabatoff e Julius R. Nasso.

PSICOPATA AMERICANO
American Psycho, EUA/Canadá, 2000.
Direção: Mary Harron.
Roteiro: Mary Harron e Guinevere Turner, baseado no livro de Bret Easton Ellis.
Elenco: Christian Bale, Justin Theroux, Josh Lucas, Bill Sage, Chloë Sevigny, Reese Witherspoon, Samantha Mathis, Matt Ross, Jared Leto, Willem Dafoe, Cara Seymour, Guinevere Turner, Stephen Bogaert, Monika Meier.
Fotografia: Andrzej Sekula. Montagem: Andrew Marcus. Direção de Arte: Gideon Ponte. Música: John Cale. Figurinos: Isis Mussenden. Produção: Christian Halsey Solomon, Chris Hanley e Edward R. Pressman.

nas picapes: L’Âge D’Or, Legião Urbana.

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19 comentários sobre “Rapidinhas”

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