Tudo é muito intenso no filme de estréia de Vadim Perelman. Tão intenso, tão intenso que ultrapassa os limites do exagero. A proposta é sufocar o espectador com a história da disputa por uma casa. Uma mulher em crise não abre suas correspondências e descobre tarde demais que vai ser despejada – injustamente – do lugar onde mora, herança do pai. A casa vai a leilão e é comprada por uma família iraniana, capitaneada por um ex-coronel fugitivo. Tem início o duelo. O ponto de partida até promete, mas a estilização extrema do filme (desde o visual até a direção dos atores) deixa muito a desejar.
Como faz pouco para substanciar o conflito, Perelman recorre ao infalível escapismo do piscológico. Jennifer Connelly, mais linda que nunca (já acorda com sombra nos olhos e tudo), vaga pelas entranhas da depressão enquanto Ben Kingsley, o étnico por natureza (seja árabe, hindu ou judeu), guarda todo o rancor bárbaro no seu coração de bom iraniano. Shoreh Aghgdashloo, simpática iraniana de verdade que faz a clássica esposa estrangeira – submissa, porém forte – que ainda não sabe falar muito bem a língua do novo país. Os três, bons atores, se prendem às imperfeições da direção de Perelman, que trata de estereotipar tudo apesar da embalagem moderninha do filme.
Na medida do possível, o trio tenta fazer bonito, mas empaca nas embromações de um roteiro que tenta ser poético com tom de tragédia e melancolia artificial, convertido em imagens extremamente originais, como flashbacks em slow motion à beira-mar e nuvens aceleradas para mostrar que o tempo está passando. O clímax, então, é uma coisa.
Casa de Areia e Névoa
[House of Sand and Fog, Vadim Perelman, 2003]