É engraçado como um filme bate de maneira diferente para cada pessoa. A subjetividade vem da memória, das experiências. É impossível ter exatamente a mesma impressão que outra pessoa depois de uma sessão de cinema. Louco é quando um mesmo filme bate de maneiras diferentes para a mesma pessoa. Cássia, documentário de Paulo Henrique Fontenelle sobre a vida de Cássia Eller, não é exatamente um grande filme. Por sinal, como filme, é excessivamente bem tradicional, até quadrado, que parece um pouco menor do que sua protagonista, uma mulher que sempre pareceu disposta a expandir os horizontes. Ainda mais quando a gente sabe que o diretor fez o excelente Loki, sobre o mutante Arnaldo Baptista, e numa época em que o conceito de documentário é tão complexo, com filmes como Girimunho, Jogo de Cena e Santiago, colocando velhos padrões em cheque. Mas curiosamente esse longa convencional, exatamente ele, deixa a impressão de que sua protagonista é uma gigante. Cássia é um filme bastante emocional e não por causa de sua excelente pesquisa de imagens, dos sobe sons da intimidade da cantora e dos depoimentos, mas porque assisti-lo faz crer que seu diretor se envolveu tão profundamente com o projeto que lhe foi impossível encontrar pontos de corte num filme que claramente tem um excesso de material. O foco numa Cássia Eller por trás do microfone cria uma identificação grande do espectador com o longa. A viúva de Cássia Eller, por sinal, pediu que o filme abordasse drogas e romances extraconjugais. Faz pensar muito sobre o que é importante. Sobre o que nós construímos. Sobre quem amamos. Sobre família e amigos, quem realmente importa. Não achar Cássia um grande filme não inviabiliza dizer que Fontenelle fez um trabalho especial. Vai entender o ser humano, né?
Cássia
[Cássia, Paulo Henrique Fontenelle, 2014]