Na sua câmera inquieta e econômica, no seu roteiro de poucas palavras, na apresentação e desenvolvimento das personagens, Cidade Baixa é tão documental quanto o trabalho anterior do diretor. E um filme com uma história assim demanda expectativas dramáticas, que não apenas não são supridas pela direção e pelo roteiro como são, inclusive, negadas. Quanto Machado liga a câmera, ele está lá para mostrar, não há intenção ficcional, não há grandes artifícios teatrais, não há verborragia ou grandes apelos narrativos.
E talvez o mais importante: há o Nordeste urbano, a grande metrópole e suas criaturas marginais e não o sertanejo e a seca e o exótico e o atrasado e o rudimentar como foco. O Nordeste não é personagem aqui.
É justamente nesta tradução do triângulo amoroso, sem firulas e frufrus, sem contextos propícios para que a caricatura e o encanto pelo tosco sirvam para afirmar as personagens e torná-los “bonitinhos”, que está o grande mérito do filme. Em seu cinema como retrato, Machado revigora um elogio ao cinematográfico que andava bastante esquecido pelos filmes brasileiros – adeptos e dependentes da historinha – e percorre as ruas menos “interessantes” de Salvador para tentar se aproximar do simples, do bruto (eu fico impressionado como as pessoas ainda se incomodam com sexo. Eu fico impressionado como as pessoas ainda se incomodam com palavrões). Sendo assim, ainda que reconheça o talento de Lázaro Ramos e Wagner Moura, com Wagner muito melhor do que Lázaro, “ator demais” no filme, é em Alice Braga e sua economia dramática que Cidade Baixa ganha seu melhor e mais furioso espelho.
Cidade Baixa
[Cidade Baixa, Sérgio Machado, 2005]
Sim, este sistema do blogspot é um circo de horrores dos spams. Acho que voltar com a confirmação para os comentários, que eu sei que terminam espantando muita gente, mas…
Spams?
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