COLD MOUNTAIN

Existe algo de nobre em louvar o velho. Anthony Minghella sabe bem disso. Ganhou o Oscar ao criar um épico disfarçado de filme independente em 1996 (O Paciente Inglês, 96). Sete anos depois, faz o mesmo, em proporções ainda maiores. Cold Mountain é uma história clássica: homem se apaixona por mulher e, antes de qualquer tipo de proximidade maior, parte para uma guerra que os separa por anos e que culmina num exaustivo caminho de volta. Paralelamente a isso, muito sofrimento da amada. A estrutura, mais que norte-americana, é greco-romana. É a essência da literatura romântica. Retratar isso nos dias de hoje não é nenhum pecado. E Anthony Minghella não teme sua odisséia e faz de tudo para que o filme seja o mais clássico possível, no que isso tem de bom e de ruim.

Se pretende ser o …E O Vento Levou (39) dos tempos modernos, o filme do diretor peca porque os desenhos dos personagens de Jude Law e, sobretudo, Nicole Kidman, são pobres. Eles são lindos, bons e puros. Os melhores, os mais belos, aqueles que têm que se reencontrar. Rhett Buttler não tinha um caráter tão positivo e Scarlett O´Hara estava bem livre das rédeas do estereótipo de mocinha da sociedade burguesa norte-americana. Em 1939, os personagens eram mais modernos do que hoje. Nada como o tempo para mostrar as feridas. Minghella queria ser clássico. Conseguiu. O problema é que, se ele queria ser velho, conseguiu êxito maior ainda. Cold Mountain não é um filme ruim, mas não é um filme perdido no tempo.

O Tiago foi preciso quando disse que mostrar a periferia da guerra civil norte-americana é o maior trunfo do filme. Vidas devastadas, famílias destruídas são o que Cold Mountain traz de novo para o cinema. Um filme precisa contribuir. Ou se perder. A grande cena do longa é aquela em que o personagem de Jude Law se deita ao lado de Natalie Portman. O conforto mais imediato, a lágrima mais sincera. Natalie é uma grande atriz. Atriz escondida, mas grande. Assim como Jude Law, perfeito num papel cheio de limites. E, se Nicole Kidman, repete maneirismos e faz um pastiche de tudo que já interpretou no cinema num personagem sem encanto, Renée Zellweger salta os clichês de uma performance a princípio caricata e mostra porque é uma grande atriz. Uma imensa atriz. A lista do Oscar parece que foi bem justa neste caso. No fim, Cold Mountain fica no banco. É bom, mas não tem talento suficiente para ser da seleção principal.

Cold Mountain
Cold Mountain, Estados Unidos, 2003
Direção e Roteiro: Anthony Minghella, baseado no romance de Charles Frazier.
Elenco: Jude Law, Nicole Kidman, Renée Zellweger, Brian Gleeson, Jack White, Giovanni Ribisi, Donald Sutherland, Kathy Baker, Philip Seymour Hoffman, Natalie Portman, Jena Malone, Eileen Atkins, Ray Winstone, James Gammon, Charlie Hunnam, Melora Walters, Lucas Black, Cillian Murphy.
Produção: Albert Berger, William Horberg, Syney Pollack e Ron Yerxa. Fotografia: John Seale. Edição: Walter Murch. Música: Gabriel Yared. Direção de Arte: Dante Ferretti. Figurinos: Carlo Poggioli e Ann Roth. Canções: Jack White, T-Bone Burnett, Elvis Costello e Sting.

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