A comparação entre Confidencial e Capote é injusta, porém impossível de não ser feita. Injusta porque, apesar de ter uma constelação no elenco, não tem o grande (e oscarizado) Philip Seymour Hoffman a sua frente. Impossível de não ser feita porque as duas biografias sobre Truman Capote têm o exato mesmo recorte: seu envolvimento na investigação de um crime que viria a render seu clássico A Sangue Frio, marco da literatura moderna.

No quesito dramático, o Capote de Hoffman é melhor do que o de Toby Jones, igualmente histriônico e afetadíssimo – o que, neste caso, deve significar que ele está muito bem -, porque parece um filme mais rígido com seus personagens, mais articulado e mais sério, embora este longa de Douglas McGrath (diretor de Emma e co-roteirista de Tiros na Broadway, de Woody Allen) tente ser mais elucidativo e revelador a cerca do caso e do protagonista.

Na área das interpretações, embora este tenha uma dezena de atores famosos, a maior parte parece só integrar o elenco para dar ‘peso’ ao filme, como Isabella Rossellini ou o diretor Peter Bogdanovich. No entanto, a interpretação de Sandra Bullock, discreta e segura, é, para minha surpresa, quase tão boa – eu disse quase – a de Catherine Keener como Nelle Harper Lee. E embora Clifton Collins Jr. esteja genial no filme adversário, Daniel Craig não faz feio.

Minha reação em relação à performance de Toby Jones é praticamente a mesma que eu tive sobre a de Hoffman: ele está bem, mas me incomoda muito. Neste caso, o diferencial é que ele não é Philip Seymour Hoffman, um ator maravilhoso.

Sobra, então, a seara da ousadia. Não que Confidencial seja exatamente um exemplo de transgressão narrativa, mas ao menos ele tenta. Com sua história entrecortada pelas entrevistas dos amigos do personagem principal, o filme adquire um tom mais jornalístico e menos formal do que Capote, que parecia uma grande reportagem mais convencional. O problema talvez seja adotar um tom didático demais em certos momentos. Mesmo assim, a intenção de refletir na estrutura do filme uma característica fundamental de seu objeto me parece bastante válida.

Confidencial estrelinhaestrelinhaestrelinha
[Confidential, Douglas McGrath, 2006]

Comentários

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Um pensamento sobre “Confidencial”

  1. Chico, eu ainda não vi o ‘peso pesado’, embora tenha baixado ele logo depois de ver este ‘Confidecial’, do qual gostei, principalmente pela atuação do TJ. Uma das coisas que eu mais notei no filme é a e(in? re?)volução do personagem Capote. No começo ele é aquela coisa espalhafatosa e cômica, e tive a impressão de que há alguma ‘gondryzice’ para que ele pareça ainda menor do que é… e ao longo da projeção ele vai ficando maior, e mais centrado, provavelmente devido à concentração, à dedicação que o livro demandava.

    essa narrativa em que há os off me deixou um pouco confuso, com a sensação de que o filme foi baseado num livro ou coisa do gênero, a respeito da processo da criação de ‘a sangue frio’…

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