DEUS E O DIABO NA TERRA

Constantine transfigura personagem, mas consegue ser um filme bom

Em comparação com outra adaptação recente de um personagem do selo Vertigo, da DC Comics (Hellboy, para ser mais preciso, grande filme de Guillermo Del Toro), Constantine deixa e muito a desejar, mas a transposição do anti-herói de Hellblazer para o cinema saiu bem melhor que qualquer um poderia esperar (ainda mais com um protagonista como Keanu Reeves, que para meu completo espanto não está mal). O diretor estreante Francis Lawrence não se rende ao ritmo de videoclipe que garantiu seu pão antes de sua estréia em tela maior. Por sinal, Lawrence tem uma mão boa para contar uma história. E a de John Constantine já era suficientemente interessante.

O detetive que vai ao inferno e volta – e que passa boa parte do tempo tentando impedir seu retorno definitivo para as profundezas – é um grande personagem. Frágil, hábitos esquisitos, morrendo por causa do cigarro, combatendo demônios para garantir passaporte para o paraíso. Garth Ennis sabe bem como explorar o estranho. Na sua versão para o cinema, Constantine ficou fisicamente desfigurado, mas seu espírito está mantido. Os coadjuvante são um achado: Tilda Swinton, Shia LaBeouf e o melhor Satanás em muito, muito tempo, Peter Stormare. Os efeitos são bons, mas às vezes se excedem no artificialismo. Parece haver uma intenção do estúdio em fazer referência ao visual de Matrix (Irmãos Wachowski, 1999), mas o que prevalece em Constantine é o clima. Francis Lawrence acredita no que está filmando e conduz com estilo a história. E isso é bem importante.

Poupando tempo:

– O que você achou do Gavin Rossdale (vocal do Bush) como Balthazar?
– Ah, era ele?

CONSTANTINE
Constantine, Estados Unidos, 2005.
Direção: Francis Lawrence.
Roteiro: Kevin Brodbin e Frank Cappello, baseados no personagem de quadrinhos criados por Garth Ennis e Jamie Delano.
Elenco: Keanu Reeves, Rachel Weisz, Tilda Swinton, Shia LaBeouf, Djimon Hounsou, Pruitt Taylor Vince, Peter Stormare, Max Baker, Gavin Rossdale, Jesse Ramirez.
Fotografia: Philippe Rousselot (e Jeff Cutter). Montagem: Wayne Wahrman (e Nicholas Hasson). Música: Klaus Baldet, Billy Howerdel e Brian Tyler. Direção de Arte: Naomi Shohan. Figurinos: Louise Frogley. Produção: Lorenzo DiBonaventura, Akiva Goldsman, Benjamin Melniker, Lauren Shuler Donnen, Erwin Stoff e Michael E. Uslan. Site Oficial: www.constantinemovie.warnerbros.com.

rodapé:
DESVENTURAS EM SÉRIE
a versão para cinema dos livrinhos caça-níqueis de criancinhas que amam Harry Potter é riquíssima visualmente. Direção de arte, figurinos e maquiagem criativos – os mais criativos dos últimos tempos. Mas roda feio toda vez que seu vilão semi-protagonista entra em cena. A caracterização de Jim Carrey, que reprisa as caras e bocas de todos os seus filmes chatos e sem graça (Ace Ventura, em primeiro lugar), dá uma dica de que só quer chamar atenção para si mesmo e estraga todo o ritmo de suspense infanto-juvenil misturado com fantasia potteriana que o material original pretende criar.

nas picapes: Don’t Give Up on Us, com Owen Wilson.

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