O verdadeiro subject do filme de David Gordon Green talvez seja o espaço reservado para o homem no mundo, na natureza. É essa relação com o que nos cerca que move as personagens do filme. Que as permite e as priva das coisas. A questão não é aquele datado conceito de produto do meio, mas de como cada um lida com o inevitável. O mundo é factual, acredita Green. As pessoas reagem aos estímulos que as provocam. É a partir da tragédia – e há muito de tragédia clássica na história de Contracorrente; tragédia que recupera mitos e noções mitológicas – que a personagem de Jamie Bell se transforma. Do rebelde ao cuidadoso irmão mais velho, o líder, o protetor.
Se o universo surgiu do caos, a vida também se estabelece a partir dele. Como Terrence Malick, produtor do filme e clara influência para o cinema de Green, o diretor não é determinista nem fatalista. Ele defende a importância do incômodo, mas não torna as pessoas reféns dele, ao contrário de um Paul Haggis da vida. O incômodo está na música espacial de Philip Glass – espacial porque preenche com destreza a tela – e na edição, que usa um efeito simples (e, a princípio, com função díspar) para promover movimento. Contracorrente, além de tudo, resgata um país bem diferente, os Estados Unidos arcaicos, ancestrais, um terreno onde se está aparentemente mais perto do nosso eu bruto. Um lugar em que, se o rio é uma metáfora da vida, o mar é o lugar comum ideal.
Contra Corrente
Undertow, Estados Unidos, 2004.
Direção: David Gordon Green.
Roteiro: Joe Conway e David Gordon Green, baseado em história de Lingard Jervey.
Elenco: Jamie Bell, Dermot Mulroney, Devon Alan, Josh Lucas, Kristen Stewart, Robert Longstreet, Terry Loughlin, Eddie Rouse, Patrice Johnson, Charles Poston, Mark Darby Robinson, Pat Healy, Leigh Hill.
Fotografia: Tim Orr. Montagem: Zene Baker e Steven Gonzales. Desenho de Produção: Richard A. Wright. Figurinos: Jill Newell. Música: Philip Glass, com Michael Linnen e David Wingo. Produção: Terrence Malick, Lisa Muskat e Edward R. Pressman. Site Oficial: Contra Corrente. Duração: 107 min.
e mais:
O Gabinete das Figuras de Cera (1924), de Paul Leni e Leo Birinsky.
Típico produto da época mais áurea da produção de cinema alemã, este filme tem como seu maior atrativo as interferências estéticas expressionistas, sobretudo na cenografia. A fotografia usa algo na luz, mas reserva essa inspiração para takes bastante isolados, como o mosaico que mostra a imagem do herói no anel. De resto, é bastante convencional, ao se apropriar de figuras históricas e dar um excessivo tom melodramático às tramas. O melhor, certamente, é o final, que subverte a, até então, narrativa do filme, misturando os dois planos de ação (a imaginação do escritor e a história contada). É mais curioso do que necessariamente bom. Há alguns atores que depois viriam a fazer sucesso em Hollywood, como Emil Jannings, Conrad Veidt e William Dieterle, que virou diretor.
Mais interessante é Rebus Film , que acompanha o DVD, que se anuncia como a primeira palavra cruzada filmada. Longe da obrigatoriedade de contar uma história, Paul Leni ousou bastante com o material, explorando como podia truncagens e efeitos. O resultado, além de muito bem humorado, é uma experiência sensorial interessantíssima.
O Galinho Chicken Little (2005), de Mark Dindal.
Apesar de ser bem mediano, o filme não é terrível como se pintou. O que falta é basicamente um melhor roteiro e um direcionamento. Chicken Little tem raciocínios tolos para os adultos e provavelmente desinteressantes e complicados para as crianças. A personagem quase neurótica não chega a ser esquizofrênica, mas passa perto. Os coadjuvantes são o supra-sumo do lugar comum e as piadas, meio velhinhas. Eu, sinceramente, não agüento mais ver arroto ser uma coisa muito, muito engraçada. Há um uso excessivo de canções também, com cenas musicais consecutivas, inclusive, mas há alguns momentos bons como a hora em que o galinho canta We Are the Champions, fazendo duas vozes.
nas picapes: All I Wanna Do is Rock, Travis.
Tem que fazer cadastro no site do AXN.
Denise, seja bem-vinda. Eu achei o texto bem interessante mesmo.
Nao consegui acessar aquela promocao de lost q vc me mandou..
Chico, nem sei mais como vim parar aqui, nem se já estive aqui antes (essa blogosfera tá cada vez maior, fico confusa hehehe) mas gostei muito do seu blog, tudo bem interessante. Sou louca por cinema e gosto muito de ler blogs sobre o tema.
Queria avisar que coloquei um link, lá no meu blog, pro post aí abaixo com o artigo do Jabor. Eu sou das que adorou o Brokeback Mountain que, eu acho tá sendo vpitima de superexposição, e entrando naquela linha de filmes “não vi e não gostei porque ficou famoso demais e eu só vejo filmes indie”… sabe como é?
Enfim, adorei a resenha do Jabor e botei um link lá, dá uma olhada se tiver um tempinho.
Abraços!
Acho Contra Corrente muito bom também; bem superior a Prova de Amor (que também acho legal).
Chico
Meu pedido da lista de discussao na liga dos Blogs foi negado!
N~çao entendi….responde lá no meu!
O título original é “Das Wachsfigurenkabinett”. Acho que é literal.
Não, tem “kabinett” no título, Marcelo… è picaretagem importada mesmo…
O título em português desse alemão é picaretagem para associá-lo artificialmente ao filme do Wiene? O Jannings fez filmes em Hollywood?
Oi Maitê, você só precisa se candidatar oficialmente já que tem a benção do Egídio. Passa lá no blogue da liga e deixa comentário se candidatando.
Chico, sou blogueira, tenho um blog sobre cinema e trabalho numa rádio, onde faço programetes sobre cinema. Estava falando com o La Pasta, e queria saber da possibilidade de poder participar da liga… Abs