A época em que nós vivemos transforma o nosso olhar para a obra de arte. Num tempo em que nossa interação com o mundo se resume a curtir fotos, opinar sobre qualquer assunto em 140 caracteres e compartilhar vídeos engraçados e curiosos, é notável que a cena em que Marina Abramović reencontra seu ex-amante, Ulay, depois de mais de vinte anos de separação, tenha virado um hit na internet. O recorte ganhou contextos alterados, mas a força de sua imagem, a força de sua ausência de palavras, emocionou muitas pessoas. Pessoas que nunca haviam ouvido falar de Abramović e que talvez nem saibam que esta cena é um pequeno trecho de um documentário sobre a artista.
Marina Abramović: Artista Presente basicamente acompanha todo o processo de criação e vivência da performance de mesmo nome que a sérvia levou para o Museu de Arte Moderna de Nova York, em 2010, um fenômeno que atraiu mais de 750 mil pessoas durante seis dias em cartaz. A performance consistia na artista, parada, em silêncio, ao longo de sete horas por dia, à medida em que 1.400 visitantes ganhavam direito a alguns minutos na cadeira em frente a ela. O encontro de olhares despertava as mais diversas reações, desde risadas sem graça até incontroláveis crises de choro. Esta emotividade atravessa todo o documentário.
O diretor do filme, Matthew Akers, utiliza a experiência, inclusive os bastidores como guia narrativo, mas abre espaço para explicar sua personagem. O espectador leigo descobre que Marina Abramović é uma performer que, desde os anos 70, realiza obras provocativas, geralmente baseadas em atividades com o corpo, que desafiam a relação entre artista e público. Akers adota uma postura curiosa de não-reverência em relação seu objeto, muitas vezes explicitando a natureza mimada e o gênio forte de Abramović.
Como dessacraliza a posição da artista, Akers humaniza seu documentário que envolve o espectador numa manta de intimidade com relação a Marina Abramović. Desta forma, é fácil entender seu imenso poder de sedução e o fascínio que esta mulher desperta. Depois de cerca de uma hora entendendo quem é aquela mulher, aparece na tela o hit da internet. O reencontro com Ulay, a cena mais forte do filme, perde sua novidade, mas é metabolizada num certo nível emocional. Já estamos tão presos ao universo daqueles dois personagens, conhecemos sua relação um com o outro e de ambos com a arte e a vida que olhamos o encontro dos dois, entendemos, aceitamos e choramos sua despedida. Envolvidos, emocionados, mas sem lamentar.
Marina Abramović: Artista Presente ½
[Marina Abramovic: The Artist is Present, Matthew Akers, Jeff Dupre, 2012]
Haha, o Barcinski classificou o filme como o pior do mundo: http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2013/04/23/nao-perca-tv-exibe-o-pior-filme-do-mundo/
Cada um com sua opinião, né?
É. Li a crítica do Barcinski e não poderia discordar mais. Pra mim, disparado um dos melhores filmes de 2013 ;D
Fui ver a cena no YouTube, é bem bonita mesmo. Eu conheci o trabalho da Marina numa matéria grande que saiu na Bravo, achei bem interessante. Mas não gostei de saber que ela é agora da turminha da Lady Gaga, que é uma pessoa notoriamente conhecida por extrair coisas da arte dando-lhe um acento fake e massificado.