Quase nada dos textinhos abaixo é inédito: são comentários rápidos sobre filmes vistos nos festivais do ano passado, que chegaram nas últimas semana ao circuito comercial (uma maneira golpista de atualizar o blogue).
[árido movie ]
direção: Lírio Ferreira
Não gostei muito do final, que se rendeu a “mudernidade”. Mas a volta de Lírio Ferreira aos longas depois de nove anos rendeu um filme “do caralho”: texto pop e redondinho, com sacadas inteligentes e devaneios muito bem encaixados no contexto. Filmado em digital, tem uma ótima fotografia (observem a cena dos retrovisores). Guilherme Weber, eu acho um equívoco, mas o resto do elenco está bem demais, com destaque para a trupe de amigos do protagonista (Gustavo Falcão, Selton Mello – gordão, ótimo – e Mariana Lima, com um sotaque perfeito). Muita maconha, alguma filosofia e a uma boa sensação de ver cinema no sertão sem mostrar as agruras da vida do sertanejo.
[crianças invisíveis ]
direção: Spike Lee, Katia Lund, Emir Kusturica, John Woo, Stefano Veneruso, Mehdi Charef e Jordan & Ridley Scott
Filme-ONG por excelência, com a maioria dos diretores presos a uma didática tão tola quanto não-funcional. Spike Lee é o mais radical: nos minutos finais de seu curta, assume seu trabalho como “filme de serviço” sem dó nem pena. Longa em episódios sempre é um problema. Charef e Veneruso querem mostrar o problema e só. John Woo quer o mesmo, mas filma melhor (embora recorra a um maniqueísmo choroso de última). Os Scott recorrem ao fantástico para fazer um filme que se pretende lindo e soa artificial. Kusturica faz filme de verdade, corretinho. Curiosamente, é do Brasil que vem o melhor episódio: Katia Lund mais neo-realista que qualquer coisa, apenas acompanha seus personagens, sem maniqueísmo, sem interferências.
[estrela solitária ]
direção: Wim Wenders
Vão me linchar, mas eu acho o melhor filme do Wim Wenders em muito, muito tempo (se bem que isso talvez não seja muita coisa, quase nada). Tem um ponto de partida bem parecido com o de Flores Partidas, do Jarmusch, mas segue caminhos diferentes. A busca pelo que pode mudar a visão que o protagonista tem da vida seria o que há de mais comum entre os dois filmes. Gosto muito da personagem da Sarah Polley, que surge e some na falta de uma explicação completa. O texto do Sam Shepard com o Wenders tem belos momentos e também muitas partes fracas, mas até delas eu me agradei. Me parece um filme assumidamente falho, talvez o máximo que o diretor consiga fazer hoje em dia. Eu nunca, ou quase nunca, gosto do Wenders. Acho que foi isso. Ou talvez alguma dó.
[tapete vermelho ]
direção: Luiz Alberto Pereira
Surpresinha boa. Nachtergaele reprisa o Jeca Tatu com precisão, se a gente perdeu a visão preconceituosa de que aquilo é uma cópia. A pequena jornada dele e de sua família (Gorete Milagres, ótima!!!) em busca de um filme de Mazzaroppi (lúdico, ingênuo) e o choque com o mundo moderno e a cidade grande, o que poderia se transformar isso aqui num filme-denúncia chatinho consegue, a partir de algumas belas idéias que passam por não ser veemente em quase nada, um resultado muito além. Não é nada espetacular, mas é bem bonitinho.
Acho o do Kusturica bom, o do Lee, meia-boca.
Devo ser um dos únicos seres da Terra que gostou de Crianças Invisíveis, e eu acho que o único episódio que tem cara de filme-Ong é o do John Woo, o mais fraco na minha opinião. O do Kusturica e do Lee acho magníficos.
O final é intelectualóide, compremeteu o resultado final, mas o filme é mesmo muito bom.
Concordo com você em relação ao final de ‘Árido movie’, que tinha tudo para ser um filme excelente. Apesar do fim inadequado para a narrativa que até então se propunha, pareceu-me ótimo. Não vi os outros filmes comentados spor você. Um abraço.