A crise econômica da Europa tem rendido alguns filmes bem interessantes, mas o novo trabalho dos irmãos Dardenne é um dos melhores. E também o melhor longa da dupla em mais de uma década. Embora guarde todos os elementos de seus filmes mais célebres, como a câmera orgânica, as interpretações naturalistas e o tempo contínuo, Dois Dias, Uma Noite talvez indique uma virada de Jean-Pierre e Luc Dardenne em direção a um público mais amplo. Salvo engano, é a primeira vez que eles recorrem a um intérprete que não nasceu na Bélgica como protagonista de um filme. Marion Cotillard mudou seu sotaque e se revelou uma escolha acertada para viver a mulher que, para recuperar seu emprego, tenta convencer seus colegas a votarem contra um bônus que só será concedido se ela for demitida.
No espaço de pouco mais de um dia, ela persegue, casa a casa, seu objetivo. Cada encontro joga sua personagem, Sandra, num contexto diferente, muitas vezes doloroso, promovendo uma versatilidade emocional rara no cinema da dupla, que além de arejar a narrativa do longa, testa os limites da personagem, sempre à beira de um ataque de nervos, e da atriz, aqui num de suas melhores interpretações. Os Dardenne continuam sua sina de analistas da Europa contemporânea, cotidiana, desprovida de beleza, incômoda, desta vez discutindo bem especificamente a crise financeira do continente e o impacto na vida do cidadão comum. Os interesses individuais são confrontados com os interesses do mercado numa luta desigual pela sobrevivência.
Dois Dias, Uma Noite
[Deux Jours, Une Nuit, Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne, 2014]
Marion Cottillard cada dia melhor!