Era o Hotel Cambridge

Muito mais barato de ser realizado do que um filme de ficção, o documentário se tornou, mais do que um destino em si, um caminho para que os jovens diretores brasileiros pudessem começar suas carreiras. O cinema documental cresceu em quantidade e qualidade e possibilitou uma série de experiências que promoveu encontros das mais variadas formas com os filmes de ficção. Colocar pessoas “reais” para interpretar a si mesmas ou até viver outros personagens se tornou um modelo bastante comum no recente cinema brasileiro, com resultados impressionantes, como em Girimunho, O Céu Sobre os Ombros, Histórias que Só Existem Quando Lembradas.

O “filme misto” chegou a um nível de realização que permitiu obras como Era uma Vez o Hotel Cambridge. Eliane Caffé é uma diretora com mais de 20 anos de carreira em longas, embora este seja apenas seu quarto filme, mas, embora tenha realizado produções respeitáveis como Kenoma e Narradores de Javé, jamais tinha alcançado a complexidade desse último trabalho. Mais do que um filme que se divide entre ficção e documentário, mais do que usar personagens reais nos papéis deles mesmo e atores nos papéis destes personagens, Eliane conseguiu um grau de intimidade rara e não necessariamente panfletária com seu objeto – os moradores que ocupam prédios abandonados em São Paulo.

Entrando nesse cenário da vida real e inserindo atores naquele contexto, sem exatamente ressaltar sua condição de intérpretes, Eliane Caffé ocupa, tal qual seus personagens, outras formas de cinema, outros espaços que não são necessariamente de fatos e nem de histórias, mas de possibilidades narrativas. Percorrer os corredores do ex-Hotel Cambridge, invadir apartamentos, reuniões e a intimidade destas pessoas/personagens e acompanhar, literalmente – ou dramaticamente -, ocupações reais ajuda o espectador a se aproximar daquelas vidas, olhando para elas tanto com e sem filtros, mas nunca com os olhos cansados.

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[Era o Hotel Cambridge, Eliane Caffé, 2016]

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