Se você for olhar bem, Escola do Riso tem uma das fórmulas mais batidas do cinema: bom e mau se encontram e o mau sai com uma lição de moral depois de ter se revelado não tão mau assim. Uma historinha bonitinha – tá bom, bem lindinha -, mas nada, nada nova. O que garante seu diferencial é o que está em volta. Pra começar, é raro ver um filme que se dedique tanto a celebrar outra arte. No caso, o teatro. O texto, escrito originalmente para o palco – e que deve ter funcionado muito bem em seu habitat – ganhou um fôlego surpreendentemente novo na tela. Mesmo com apenas dois personagens, um cenário que ocupa praticamente 90% das cenas e cheio de marcações teatrais, Escola do Riso é cinema.
A câmera é inteligentíssima e nunca pára quieta. A cada cena, ganhamos novos enquadramentos até que o cenário inteiro seja explorado, numa clara associação à aproximação dos personagens. Além disso, a montagem é ágil o suficiente para dar um movimento incessante ao filme, que é quase sempre orgânico e vivo. Sua maior qualidade, no entanto é o elogio que faz à comédia. Um gênero que raramente é tratado com seriedade pelo cinema – ou mesmo pelo teatro -, principalmente numa época em que a grosseria e o conteúdo sexual são associados cada mais ao humor puro. A meu ver, a pureza da comédia está exatamente no que este filme apresenta.
Desde a influência clownesca, defendida pelo brilhante Goro Inagaki, que ganha reforço com a música felliana, à própria paixão pela manufatura do riso, pela piada calculada e pelo processo de elaborar um texto ou um gesto que cative a platéia. O texto sabe traduzir isso bem nos ‘ensaios’ do espetáculo censurado. Junto com ele, Kôji Yakusho, excelente (antes de Babel), talvez o melhor ator do ano, defende o filme com uma beleza indescritível. A dupla é a pilastra sobre a qual o longa se sustenta. Um texto que é muito mais do que os atores, mas que ganha neles seu melhor espelho, seu maior reflexo.
Escola do Riso
[Warai No Daigaku, Mamoru Hosi, 2004]
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