Difícil a vida de Alexander Sokurov. O homem é um dos maiores estetas do cinema recente e, a cada trabalho, gera uma imensa expectativa. Em Fausto, último capítulo de sua tetralogia do poder, o russo conseguiu se superar na composição visual. O filme em que alegoriza a lenda alemã ou o a história do livro de Goethe, como queiram, é ao mesmo tempo sujo e iluminado. Sokurov compõe quadros ao mesmo tempo em que experimenta a luz e distorce as imagens, que nunca foram tão lindas – e olhe que estamos falando do fotógrafo de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
Mas a embalagem visual, que vai do sublime ao claustrofóbico, é extremamente funcional para a descida aos infernos planejada por Sokurov. Ele amplia, contextualiza, reflete sobre o material original com um humor nunca visto e a densidade costumeira. O papel mais difícil, o de Mefistófeles, é composto com complexidade pelo excelente Anton Adasinsky, que empresta uma estranha humanidade ao personagem.
É curioso ainda como Sokurov escolhe Fausto, um personagem real que ficou célebre num livro, para fechar sua série de filmes sobre o poder. Hitler, Lenin e Hiroito, três ditadores cujas “obras” estão bastante frescas nas nossas memórias, foram os alvos do longas anteriores. Ao narrar a história de Fausto, Sokurov parece lançar sua reflexão sobre o tema num outro nível, saindo da esfera do palpável, buscando razões extra-homem, para chegar a uma apoteose espiritual que sempre fez parte do imaginário do diretor.
Fausto
[Faust, Aleksandr Sokurov, 2011]