The Cove
[The Cove, Louie Psihoyos, 2009]
O filme que ganhou o Oscar de melhor documentário se utiliza do formato de thriller justiceiro para conquistar o espectador com a história da matança de golfinhos na costa japonesa. Descontada a condução populista do diretor Louie Psihoyos, The Cove até que é bem eficiente em sua mistura de investigação jornalística e drama da vida real. Parece um programa de TV interessado em usar flagrantes (muitas vezes captados através de equipamentos com sensores de visão noturna, no melhor/pior estilo câmera na mão) para vender suas denúncias. As manobras dramáticas são bem evidentes, mas o filme não tem pudores em assumir sua condição de panfleto, o que termina legitimando sua “função social”.
Entre Dois Mundos
[Ahasinetei, Vimukthi Jayasundara, 2009]
Filme-cabeça do Sri Lanka. Prefira os ocidentais. O problema maior do filme de Vimukthi Jayasundara talvez seja como o diretor abusa de simbolismos para costurar seu longa, que ora parece querer retratar a história recente do país e, em outros momentos, assume mitologias e aspectos culturais que não faz o mínimo esforço para tornar assimiláveis. Então, a fotografia bonita parece puro grafismo e o filme fica perdido numa tentativa de transgressão que bate e volta pro mesmo lugar.
Independência
[Independencia, Raya Martin, 2009]
A composição visual deste filme filipino é, de longe, seu maior acerto. O longa de Raya Martin, que faz parte de uma trilogia sobre a colonização do país, assume a artificialidade como linguagem. A primeira impressão de Independência é que estamos diante de um filme norte-americano dos anos 30. Um daqueles sobre lugares “exóticos”. A textura do preto-e-branco é exatamente a mesma. E o cenário de floresta equatorial é composto por plantas falsas e um fundo pintado, como Eric Rohmer fez em A Inglesa e o Duque. Com essa artificilidade, Martin parece querer criar um lugar imaginário, onde os personagens principais conseguem se refugiar da ocupação dos EUA, justamente nos anos 30. A história central, da família na floresta, pouco importa, talvez só exista para que os personagens possam usar suas metafóricas asas de palha. O posicionamento político do diretor fica mais flagrante quando a narrativa é cortada por um cine-jornal em tom irônico que apresenta “o mundo real”. Apesar de suas ousadias, o filme, no entanto, parece meio confinado ao formato de “cinema para festivais”, um calabouço ainda mais artificial do que o que o diretor quis apresentar.
Sherazade, Conte uma História
[Ehky Ya Scharazad, Yousry Nasrallah, 2009]
Os raros filmes egípcios que chegam ao Brasil mostram um país mais pobre, pessoas simples e histórias familiares. Desse modo, Sherazade, Conte uma História é bastante curioso porque se predispõe a apresentar uma sociedade desenvolvida (o cenário são bastidores de TV) e ampliar discussões sobre o papel da mulher nessa sociedade. As personagens são entrevistadas num programa de TV, por uma espécie de Márcia Goldschmidt do Egito, e as histórias, geralmente envolvendo abusos, violência e decepção com os homens, surgem em flashbacks. O discurso feminista é prejudicado pelo formato, o mais folhetinesco possível, mas o resultado termina sendo interessante.
Oba! Já estou formando uma pré-lista do que assistir na Mostra de SP. E sei que você curtiu Machete também. Muito legal!
GRAÇAS A DEUS. Estava me sentindo tão orfão. Sem post, sem crítica, sem estrelas. Ainda bem Chico que você postou e com grande estilo. FESTIVAL. Estou louco para ouvi as primeiras impressões de Copie Conforme, do Kiarostami. Até mais.