Film-Socialisme, Jean-Luc Godard, 2010
A sensação é de murro em ponta de faca embora Godard tenha conseguido um aproveitamento excepcional do digital. Mas as cores não escondem o fato de que o diretor parece preso em sua própria camisa de força, reprisando cacoetes e refazendo sua revolução pela enésima vez. O filme costura textos de dezenas de autores – dezenas mesmo – mas seu mosaico de citações e referências a conflitos que nunca são muito bem explicados parece funcionar mais como incômodo do que outra coisa. Quando o garotinho loirinho diz “eu posso derrotar todos vocês. Eu enfrentaria até o sol se ele me atacasse” nós temos uma bela ideia de quem aquele pestinha representa.
Por Tu Culpa, Anahí Berneri, 2010
Este filme argentino provocou incômodo no fim de sua sessão porque não amarra sua história. O que a plateia não entendeu muito bem é que praticamente não há história aqui. E esse talvez seja o motivo pelo qual o longa pareça interessante. A mãe toma conta dos filhos, mas eles é quem dominam a casa. Quando um cai e se machuca, todos vão para o hospital e os hematomas são mais do que se imaginava. Essa sinopse cria expectativas, mas a direção segue um outro caminho. Interessa muito mais a fragilidade emocional da mãe do que sua culpa ou não. O filme se desenha lentamente e termina brusco como começou.
Carancho, Pablo Trapero, 2010
O filme mais bem prouzido de Pablo Trapero parece ser seu trabalho menos autoral. Embora seja tecnicamente correto, Carancho, parasita em espanhol, parece feito sob encomenda para um público maior. Ricardo Darín, o único ator da Argentina segundo uma amiga, e Martina Gusman, mulher do diretor, vivem uma história de amor entre um advogado que aplica golpes em vítimas de acidentes de carro e uma socorrista. Os dois estão bem, química total, mas incomoda o fato deste filmes não ter arestas, charme do cinema de Trapero. Tudo é redondinho, explicadinho, até o visual sujo é calculado. Não é ruim, mas está longe de ser um dos melhores filmes do diretor.
Copacabana, Marc Fitoussi, 2010
Comédia insólita com o talento habitual de Isabelle Huppert, desequilibrada como de costume. O filme é meio estranho e esse talvez seja seu charme. Mistura drama familiar, romance e filme sobre desajustados numa panela que nunca parece pronta para ir à mesa, mas que cheira bem. A visão estereotipada do Brasil, inclusive na trilha bossa nova reciclada, funciona melhor do que o previsto e garante um belo devaneio final.
Hors-la-loi, Rachid Bouchareb, 2010
Nada está fora do lugar em Fora da Lei, mas o filme do argelino radicado na França é um tédio só. Trata-se de uma mistura de épico pessoal e cinema político em formato burocrático e hollywoodiano (e que pode dar mais uma indicação ao Oscar para o diretor). É muito bem produzido, mas sua convencionalidade incomoda do começo ao fim de sua looonga duração.
Ayla, Su Turhan, 2010
Cinema étnico feito por um turco na Alemanha. A protagonista que se rebelou contra os preceitos de comportamento social da família arruma um namorado que tem uma família ainda pior e passa por maus bocados. De drama racial vira thriller insólito. A virada não é nada agradável. Cruzes.
Norberto Apenas Tarde, Daniel Hendler, 2010
Depois de estrelar os filmes do amigo Daniel Burman, Daniel Hendler resolveu passar para o outro lado da câmera. Sua estreia na direção nos apresenta a um personagem curioso: Norberto é um loser, que aos 30 e poucos anos ainda não sabe o que quer da vida e parece acreditar nas mentiras que conta para a mulher. Mas o protagonista parece melhor no papel. Hendler não consegue dar muita substância aos conflitos de Norberto e o incômodo do personagem fica pelo meio do caminho. O resultado é um filme simpático, mas que não se aprofunda.
La Nostra Vita, Daniele Luchetti, 2010
Há uma série de acertos neste filme de Daniele Luchetti, do bom Meu Irmão é Filho Único. Ele explora um melodrama familiar, mas filma a história com câmera realista, criando uma dualidade curiosa entre a encenação do drama e a naturalização do cotidiano – parece que esta agora é a tendência. A performance de Elio Germano, premiado em Cannes, é boa, mas supervalorizada. O ator, que vive o homem que precisa cuidar dos três filhos depois da súbita morte da esposa, evita o tom elevado o que deixa as cenas em família especiais, mais fortes do que naturalmente seriam.
Scott Pilgrim Versus The World, Edgar Wright, 2010
Edgar Wright ainda vai dominar o mundo. O humor completamente particular deste inglês equilibra inteligência e simplicidade em filmes deliciosos de assistir. Sua primeira incursão em Hollywood resultou num longa irresistível, adaptado de uma HQ que parecia mesmo prato cheio para alguém com a bagagem pop do diretor. As aventuras de Scott Pilgrim unem as coisas mais legais do universo: rock, mangás, superpoderes e muito sarcasmo. O texto nos oferece gargalhadas em sequência, mas também tem dezenas de momentos de doçura. A edição em modo anime sustenta as referências. Quem leu o material original reclamou da escolha de Michael Cera como protagonista, mas se o physique du role não é o mesmo, o ator – mais uma vez – está perfeito como o baixista conquistador de uma banda de rock da qual ninguém ouviu falar. O elenco de apoio ajuda. Em especial, Kieran Culkin, que está genial como o melhor amigo gay de Pilgrim.
Chico, eu adoro seu blog, mas tenta falar um pouco menos do final dos filmes!
Lembre-se que a maioria não pode ir lá vê-los na fonte como você!
Nossa! Me interessei por este A Culpa é Sua. Com certeza me instigou!