Novos nomes aparecem aos montes nas listas de grandes festivais, mas muitos diretores experientes também dão o ar da graça. No Festival do Rio 2013, cineastas com 50 anos de carreira como Andrzej Wajda apresentam seus novos filmes ao lado do francês François Ozon, do americano Gus Van Sant, do inglês Terry Gilliam e do japonês Takeshi Kitano. Nomes que sempre atraem, mas que nem sempre acertam.

François Ozon

Jovem e Bela EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Jeune & Jolie, François Ozon, 2013]

A estrutura de Jovem e Bela, divido nas quatro estações de um ano em que a protagonista decide se prostituir, pouco acrescenta a essa investigação sobre a sexualidade juvenil, embora este seja o melhor filme que François Ozon dirigiu nos últimos oito anos. Se o parisiense parece não ter encontrado a moldura adequada para contar sua história – o corte em capítulos é lugar comum, inclusive -, sua reflexão sobre os dilemas de uma garota que descobre as possibilidades de seu próprio corpo ganha ares existencialistas. O espectador acompanha a personagem durante um ano, conhecendo suas dúvidas e curiosidades. Ozon nunca impõe uma verdade para Isabelle. Parece estar descobrindo, junto com, ela, o que a motiva e quais são seus desejos. Não existe questão social ou econômica envolvida, o que torna a trilha seguida pela protagonista mais sedutora. Tanto quanto a própria. A modelo Marina Vacht, estreante, impressiona pela beleza e por conseguir traduzir tanto a frigidez quanto a fragilidade da personagem. A embalagem de suspense psicológico ajuda a manter uma tensão constante.

Outrage: Beyond

Outrage: Beyond EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Autoreiji: Biyondo, Takeshi Kitano, 2012]

O Ultraje fez tanto sucesso no Japão, além de ter participado de festivais internacionais, que Takeshi Kitano resolveu mergulhar mais uma vez no universo da Yakuza com os mesmos personagens do filme de 2009. Todos eles voltam nesta sequência, disputando ainda mais acirradamente o poder dentro da máfia japonesa. O filme parte da libertação de Otomo, vivido pelo próprio Kitano, que todos julgavam morto, mas havia sido preso depois de ser traído por seu ex-assecla Ishihara, Ryo Kase em estado de graça. A partir daí, o cineasta amarra uma trama clássica de filmes sobre a Yakuza, centrada em jogos de poder, que desta vez mostram até o envolvimento de políticos. O fator Kitano entra em ação para temperar o negócio com violência excessiva e humor negro numa embalagem pop, como na ótima cena do assassinato com bolas de beisebol.

Terra Prometida

Terra Prometida EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Promised Land, Gus Van Sant, 2012]

Gus Van Sant costuma alternar seus filmes mais ousados, como Gerry e Elefante, com obras mais convencionais, que nem por isso são desinteressantes. Terra Prometida é um filme de bom moço do diretor. A história sobre um funcionário de uma grande corporação que tenta convencer os moradores de uma cidade no interior dos Estados Unidos a autorizar a exploração de gás natural na região é cheia de idealizações, mas tem seus méritos. John Krasinski e Matt Damon, ambos atores do filme, escreveram o roteiro, que foge do denuncismo ecossocial para construir personagens e capturar o clima rural americano com delicadeza. A trilha e a fotografia, que sempre utiliza planos abertos para dar a dimensão do lugar, ajudam a tornar o filme mais “caseiro”. Nenhum ator está especialmente bem, mas todos parecem estar nos papeis certos.

Walesa

Walesa, o Homem da Esperança EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Walesa, Andrzej Wajda, 2013]

Biografar um líder sindical que se tornou presidente de um país da antiga Cortina de Ferro sem cair em maniqueísmo e reverência parecia missão impossível, mas o veterano Andrzej Wajda, embora não fuja do didatismo em relação ao personagem, fez um trabalho admirável. Já na primeira cena, o cineasta mostra que não vai ser (muito) condescendente com o amigo Lech Walesa: “ele mora num apartamento cedido pelas pessoas que ele combate?”, pergunta a jornalista italiana, abrindo espaço para as idiossincrasias do polonês. Wajda filma com muita competência, alternando filtros e movimentos de câmeras, como na cena do interrogatório de Walesa, em que a tensão é basicamente construída pela confusão. A trilha sonora, basicamente o punk rock que era a música de protesto da época no país, ajuda a dar uma textura diferente para o filme. Robert Wieckiewicz incorpora a energia do personagem numa interpretação vigorosa. Embora seja um filme com uma função clara – homenagear um “herói” -, Walesa, o Homem da Esperança é menos oficial do que possa parecer.

The Zero Theorem

The Zero Theorem Estrelinha½
[The Zero Theorem, Terry Gilliam, 2013]

A verdade é que as pirações de Terry Gilliam faziam mais sentido – ou funcionavam melhor – uma, duas décadas atrás. O cineasta de Brazil, o Filme e Os Doze Macacos retorna à ficção-científica num filme que tem um plot promissor: uma espécie de megahacker prestes a descobrir a razão da existência do homem é interrompido pelo sistema sempre que se aproxima da verdade. A ideia fascinante morre na proposta. Gilliam não acerta a mão no humor e as questões sérias viram piadas multicoloridas (por sinal, a direção de arte, sempre um trunfo no cinema do homem, é insuportável). Nem a brincadeira com Matrix, nem a ponta de luxo de Matt Damon ajudam a dar alguma substância para o filme. Christoph Waltz tenta encontrar o tom, mas é levado pro buraco negro das boas intenções.

Comentários

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2 comentários sobre “Festival do Rio 2013: 5 novos filmes de diretores famosos”

  1. “este seja o melhor filme que François Ozon dirigiu nos últimos oito anos.” humm…vc não deve ter assistido Dentro de casa do Ozon né…

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