O elefante na sala do título não é, mas também poderia ser sobre este post celebrar o aniversário de um blog que parou de ser atualizado há um bom tempo. O fato é que o Filmes do Chico completa 20 anos de idade neste 29 de janeiro de 2023 e, mesmo que as publicações aqui estejam de férias, este espaço existe há tempo demais para que eu ignore a data. Pensei muito sobre qual seria a melhor maneira de comemorar estas duas décadas e cheguei à conclusão que, em vez das tradicionais listas de melhores filmes de todos os tempos, que eu sempre postei nos aniversários do blog, o ideal seria realmente passar a limpo esta trajetória.
Por isso, resolvi fazer uma série de posts em que relembro e analiso, ano a ano, os 20 anos do Filmes do Chico. Na primeira parte deste primeiro post, faço minha listinha de melhores, incluindo um Top 10 e algumas categorias. Aqui decidi sempre utilizar a estreia mundial dos filmes porque me permite atualizar constantemente a relação independentemente de quando eu vi ou revi a obra para ser mais fiel ao lugares que ele ocupa na minha memória. Na segunda parte, reflito sobre o ano no cinema e na minha vida, aí sim, me atendo ao ano em si, para tentar mostrar onde eu estava e quem eu era naquele momento específico.
Espero que vocês gostem desta viagem no tempo comigo. Este blog, além de ter canalizado minha cinefilia para um caminho que me levou ao Cinema na Varanda e à Abraccine também me apresentou a algumas pessoas que eu carrego para a vida.
Elefante, de Gus Van Sant, ganhou o Chikito de melhor filme
TOP 10 FILMES DE 2003
1 Elefante, Gus Van Sant
2 Encontros e Desencontros, Sofia Coppola
3 Um Filme Falado, Manoel de Oliveira
4 Kill Bill: Vol. 1, Quentin Tarantino
5 Shara, Naomi Kawase
6 Los Angeles Plays Itself, Thom Andersen
7 O Prisioneiro da Grade de Ferro, Paulo Sacramento
8 Adeus, Dragon Inn, Tsai Ming-liang
9 Brown Bunny, Vincent Gallo
10 X-Men 2, Bryan Singer
o filme do ano
Como entender o que não tem uma explicação apenas? Como dar dimensão e perspectiva ao nascimento de uma tragédia? Como investigar a violência sem condenar o executor? Gus Van Sant captura um sentimento perseguindo os ecos do fantasma. Observa com delicadeza os intervalos entre os arquétipos do highschool norte-americano. Constrói a partir de imagens e sons – a palavra é uma coadjuvante – um inventário da geração que recebeu a mais pesada das heranças, o culto à força, e não aguentou. Faz um dos mais vivos filmes sobre a morte. O elefante está na sala. Só não vê quem não quer.
a melhor direção
Gus Van Sant, Elefante
as melhores performances
Bill Murray & Scarlett Johansson, Encontros e Desencontros
o melhor filme de estreia
O Prisioneiro da Grade de Ferro, Paulo Sacramento
o melhor filme brasileiro
O Prisioneiro da Grade de Ferro, Paulo Sacramento
a melhor cena do ano
“O choque do capitão”, a cena final que explica, valida e justifica Um Filme Falado e o olhar preocupado de Manoel de Oliveira para o mundo
além do top 10
Bom Dia, Noite, Marco Bellocchio; Filme de Amor, Julio Bressane; Oldboy, Park Chan-wook; S21 – A Máquina de Morte do Khmer Vermelho, Rithy Panh; Sobre Meninos e Lobos, Clint Eastwood.
2003 no cinema:
Além dos filmes já citados, foi o ano em que Bong Joon-ho lançou Memórias de um Assassino; Richard Linklater chegou com Escola de Rock; François Ozon apresentou Swimming Pool; e Ang Lee dividiu público e crítica com Hulk. Elefante, meu filme favorito do ano, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, desbancando Dogville, de Lars Von Trier. O Leão de Ouro em Veneza foi vencido por O Retorno, estreia de Andrey Zvyagintsev. Já Neste Mundo, de Michael Winterbottom, levou o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Entre os debuts do ano, Tie Xi Qu: West of the Tracks, de Wang Bing, e As Bicicletas de Belleville, de Sylvain Chomet. Por falar em animação, Procurando Nemo foi a maior bilheteria do ano nos EUA, mas O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, de Peter Jackson, foi o campeão do ano a nível mundial. O longa também ganhou os Oscars de filme e direção e o Bafta de melhor filme, entregues em 2004. Encontros e Desencontros ficou com o Spirit para filmes independentes.
2003 na minha vida:
Foi um dos anos mais conturbados da minha vida pessoal. Depois de deixar um emprego de dois anos em São José dos Campos, primeira vez que morava longe da minha família, no meio de uma crise de identidade e de um Retorno de Saturno, me mudei para São Paulo onde minha rescisão durou pouco mais de três meses. Foi neste intervalo onde eu só conseguia ir ao cinema que nasceu o Filmes do Chico, muito influenciado pela proliferação de blogs no Brasil e no mundo e certamente fruto de um desejo que cada vez surgia mais forte: escrever sobre o que eu mais amava. Já sem dinheiro, voltei para minha Maceió natal para, depois de três meses, largar um novo emprego e me arriscar em Salvador, onde me estabeleci e segui por quatro anos. Como havia acabado de me mudar para lá, não tinha como seguir minha tradição e tirar férias para ir à Mostra de Cinema de São Paulo. Mas fiz uma loucura e vim por um fim de semana. Foram dez filmes em dois dias. Entre eles, o longa da Sofia Coppola que foi um dos meus favoritos do ano. Neste ano, surgiram muitas páginas sobre cinema, o que provocou o nascimento da Liga dos Blogues Cinematográficos, que me deu amigos que me acompanham até hoje, entre eles Michel Simões e Tiago Faria, com quem divido o Cinema na Varanda.
Próxima parada: 2004, antes de um certo pôr-do-sol.
Amando acompanhar o cruzamento dos anos no cinema com a tua vida pessoal, Chico!