Adaptações que atualizam histórias clássicas para os dias atuais sempre correm o risco de ver diluídos os conceitos e objetivos do material original, principalmente quando este original é um ícone. Mas Bernard Rose, diretor que já tem experiência em explorar o horror pelo viés do contemporâneo, conseguiu dar um novo sentido – aliás, dar sentido de novo – para as questões lançadas por Mary Shelley há 200 anos. Em meio a tantas versões, fiéis ou atualizadas de Frankenstein que inundaram o cinema e a TV nos últimos anos, a reencarnação urbana a que Rose submete o personagem poderia facilmente ficar escondida, mas merece vida extra.

FrankensteinRose atualiza as discussões propostas por Shelley (criação, existência, identidade) e ainda as amplia as discussões para tocar em temas mais atuais (inserção, medo, origem). Uma das principais contribuições do diretor-roteirista é na nova concepção, no sentido literal, do monstro. Criado por um casal de cientistas, interpretados por Danny Huston e Carrie Ann Moss, a criatura de Rose é criada com um bebê, desenvolvendo uma forte ligação maternal com sua criadora. Uma relação difícil de ser trabalhada, mas que embasa e potencializa os contextos do filme.

A ideia de converter o outcast de Shelley num morador de rua, sujeito à violência nossa de cada dia, violência vinda nas mais variadas formas, é excelente. A combinação entre o visual street gore e o voice over com um texto rebuscado funciona impressionantemente como um ensaio poético sujo e profundo sobre nossa sociedade e sobre como enxergamos diferenças. A composição física e minimalista de Xavier Samuel literalmente dá corpo a tanta ousadia. As presenças de Moss, Huston e Tony Todd (estes dois últimos ex-protagonistas de filmes de Rose) só aumentam os créditos desta pequena pérola.

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[Frankenstein, Bernard Rose, 2015]

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