A maior qualidade do filme reside justamente no estabelecimento desta atmosfera suburbana: ela existe e permeia toda a projeção, mas os dramas dos personagens, que existem em tanta profusão quanto num filme de Robert Altman ou num romance de Agatha Christie, são muitos e mal desenvolvidos. A suposta protagonista, a belíssima e fraquinha Michelle Valle, é abandonada em diversos momentos da trama, como se as histórias paralelas conseguissem se sustentar sozinhas. Existe um certo cuidado com a fotografia, que consegue alguns momentos inspirados com o posicionamento ou a movimentação de câmera (que às vezes, inclusive, é usada em demasia).
O filme consegue ser muito mais simpático quando é raso, cotidiano, convencional. Quando o diretor tenta criar um caráter psicólógico à história do herdeiro da pedreira e de seu amigo dependente de remédios, usa imagens metafóricas que vão do óbvio (pedras explodindo) ao grotesco (esqueletos artificais à beira-mar). Garotas do ABC é muito irregular, embora Reichenbach consiga dar um desfecho simplérrimo e muito eficiente à paixão de sua mocinha por heróis de filmes de ação.
Garotas do ABC: Aurélia Schwarzenega
[Garotas do ABC: Aurélia Schwarzenega, Carlos Reichenbach, 2004]