EM NOME DO PAI

Cláudio Torres segue missão divina para fazer cinema pop no Brasil

Redentor é um filme sem comparação dentro da recente cinematografia brasileira. Em meio a produções ora grandiosas com pretensão clássica, ora radicais imbuídas de um oportunista espírito revolucionário e de denúncia, o longa de estréia de Cláudio Torres é bálsamo benigno na sua crônica social narrada em tom farsesco. É curioso perceber como Torres (e seus co-roteiristas, entre eles sua irmã, Fernanda) conseguem transformar uma história claramente inspirada nas vigarices do ex-deputado Sérgio Naya, um dos maiores empreiteiros do país, numa fábula onde o realismo fantástico ajuda a definir um novo cinema popular brasileiro. Um cinema moderno, urbano, acessível, que não é calcado no Brasil peculiar, personagem, curioso (como o bom Narradores de Javé, Eliane Caffé, 04), muito menos na irritante – em temas e em profusão – produção classe média alta, que gera filmes medonhos como Viva Voz (Paulo Morelli, 04).

Pedro Cardoso, bom ator aqui livre da caricatura que o assombra há alguns anos, é o jornalista que se vê frente a frente com o ex-amigo de infância, o empreiteiro picareta vivido por Miguel Fallabella, que consegue não estar completamente ruim. Desse duelo que poderia resultar em reprise desnecessária e desinteressante, o diretor consegue estabelecer uma visão jocosa do país e do brasileiro a partir justamente da abolição da verossimilhança. Corajoso em assumir a farsa como carapuça, mesmo que cheio de pequenas imperfeições e alguns excessos, Cláudio Torres fez um cinema que não tenta cooptar o espectador de maneira fácil, mas que o faz refletir partindo da brincadeira, além de ajudar a estabelecer uma saída pela esquerda para quem quer fazer filme pop no Brasil. Redentor é melhor ainda do que parece porque é novo sem querer ser revolucionário.

REDENTOR
Redentor, Brasil, 2004.

Direção: Cláudio Torres.

Roteiro: Elena Soarez, Cláudio Torres e Fernanda Torres, a partir da história de João Emanuel Carneiro.

Elenco: Pedro Cardoso, Miguel Falabella, Fernanda Montenegro, Camila Pitanga, Fernando Torres, Stênio Garcia, Enrique Diaz, Jean-Pierre Noher, Mauro Mendonça, Tony Tornado, Lúcio Mauro, Lúcio Andrey, Babu Santana, Rogério Fróes, Louise Wischermann, Paulo Goulart, Tonico Pereira, Guta Stresser, José Wilker, Fernanda Torres, Domingos de Oliveira, Suely Franco, Leonardo Netto, Vagner A. Sanchez, Mário Hermeto, Marcel Miranda, Guilherme Vieira.

Fotografia: Ralph Strelow. Montagem: Vicente Kubrusly. Direção de Arte: Tulé Peake. Música: Maurício Tagliari e Luca Raele. Figurinos: Marcelo Pies. Produção: Claudio Torres e Leonardo Monteiro de Barros. Site Oficial: www.redentorofilme.com.br.

nas picapes: Well It’s True That We Love One Another, The White Stripes.

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