Lady Snowblood

Lady Snowblood foi uma das maiores influências para que Quentin Tarantino construísse não apenas a trama, mas imaginasse algumas das cenas mais famosas do épico em duas partes Kill Bill. Exemplar máximo da pink violence, gênero de ação estrelado por mulheres, o filme dirigido por Toshiya Fujita em 1973 acompanha Yuki, uma mulher em busca de vingança. Ela é treinada por um mestre de artes marciais para caçar os assassinos de sua família. Elementos da personagem inspiraram tanto A Noiva de Uma Thurman quanto O-Ren Ishii, vivida por Lucy Liu. Observar as semelhanças – neste filme sem a menor vergonha de explodir em cores – é um atrativo à parte para o espectador.

Além dos jorros de sangue, da divisão da história em capítulos e das lutas com espada, há momentos em que Tarantino parece ter simplesmente refilmado o longa de Fujita. Parte da história de Yuki é mostrada em mangá, de onde o filme é derivado, da mesma maneira que o trauma da personagem de Liu é apresentado como um anime. Na revisão, o impacto de Lady Snowblood se perde um pouco, mas o filme tem uma série de achados visuais e de linguagem que ainda impressionam. A montagem não-linear ajuda a transformar a manter o supense do longa, mas parece não dar o ritmo que o filme exige. Letreiros invadem a tela, abrindo mão da última gota de formalidade na narrativa. A famosa cena da luta na neve de Kill Bill tem numa sequência desse filme sua maior inspiração.

Fujita flerta o tempo todo com a literatura barata, desde as interpretações dos atores, passando pelos exageros visuais, até personagens que se escondem atrás de máscaras e reviravoltas de roteiro que mais parecem saídos de novelas mexicanas. Esse conjunto transforma Lady Snowblood num programa delicioso, cujo maior talento é levar a sério sua brincadeira. O diretor conseguiu convencer o ator de Hiroshima, Meu Amor, Eiji Okada, a ser o principal vilão de seu conto amoral. Amoral porque Fujita se abstém de julgamentos e juízos de valores sobre os atos da personagem. Ele se limita a registrar de modo mais hiperbólico possível essa história de vingança. A atriz Meiko Kaji também canta o tema principal do filme, mais um elemento “importado” por Tarantino para seus filmes duplos. Curiosamente, assim como Kill Bill, embora por razões diferentes, Lady Snowblood também teve um segundo capítulo.

Lady Snowblood EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Shurayukihime, Toshiya Fujita, 1973]

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