Meu Rei

Políssia, embora tivesse algumas simplificações e soluções fáceis de roteiro, era um filme-painel ágil e bem interessante sobre a divisão da polícia francesa de proteção a crianças, com um elenco grande e bem dirigido pela atriz-que-virou-cineasta, Maïwenn. Mas o trabalho seguinte da francesa, seu quarto longa como diretora, tem resultados bem mais contraditórios. Se de um lado, busca retratar com o máximo de realidade possível os bastidores de um casamento conturbado, o filme não raramente invade os limites do histriônico e assume algumas posturas próximas bem questionáveis, namorando perigosamente com a misoginia. O filme se passa em duas linhas temporais paralelas: no presente, Tony acaba de sofrer uma acidente na montanha e vai para uma clínica onde vai se recuperar de uma perna lesionada. No passado, ela reencontra Georgio, um flerte da juventude, e os dois rapidamente engatam um namoro e um casamento. Como manda o clichê, o príncipe encantado esconde defeitos que só a convivência poderia revelar e, dia a dia, Tony descobre novos problemas em seu relacionamento. O grande senão de Maïwenn é como ela administra essa mudança nas personagens. Aos poucos, a diretora transforma Tony numa mulher histérica e Georgio, num canalha natural. Os estereótipos só não viram monstros maiores porque tanto Emmanuelle Bercot, que também é cineasta, quanto Vincent Cassel são ótimos atores e estão muito bem em suas personagens quando o roteiro não os condena demais. E se Maïwenn, que foi casada com o cineasta Luc Besson quando tinha 15 anos de idade, é bastante tolerante com o personagem do marido, a diretora parece condenar a personagem da esposa, como se Georgio tivesse o comportamento de qualquer homem e se Tony não tivesse tido a força necessária para perceber e enfrentar isso.

Mon Roi EstrelinhaEstrelinha½
[Mon Roi, Maïwenn, 2015]

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