A primeira cena de Missão: Impossível III joga você, espectador, no meio da ação. Sem pára-quedas. O impacto desta seqüência, que inicia o clímax do longa-metragem, é um belo de um golpe do diretor J.J. Abrams para articular seu filme como um grande flashback. Desta forma, apresentando a primeira parte do desfecho e voltando no tempo para narrar os eventos que culminaram naquela cena, Abrams faz com que toda a duração do filme ganhe tom de clímax. Para quem tem alguma intimidade com a história recente do cineasta, que estréia como diretor, a utilização deste recurso, a manipulação de tempo, é freqüente nas suas criações. O melhor exemplo é Lost, possivelmente a série mais mitificada dos últimos tempos. Da mais bem sucedida carreira da TV, Abrams importa muitos elementos e são eles que deixaram a terceira incursão de Ethan Hunt no cinema tão boa quanto as anteriores.
Se Brian De Palma era um mestre da ação e John Woo… bem… também era um mestre da ação nos dois longas anteriores, o novo diretor, além de criar seqüências es-pe-ta-cu-la-res com todos os hífens a que se tem direito, teve a capacidade de humanizar como nunca o protagonista e, assim, construir uma série de cenas que, quando pouco, são estranhas às regras do gênero (o filme de espionagem) e, sob outro ponto de vista, chegam a subverter algumas destas regras, como o inesperado final. Não se trata de um final radical, revolucionário, mas é um final que vai de encontro a um princípio básico deste tipo de filme.
Desde Lost, Abrams revelou uma queda pelos pequenos conflitos, que muitas vezes ganham o lugar das seqüências de ação. E quando se dedica a eles, não há dó nem piedade na hora de usar o sentimentalismo a seu favor. Diálogos com personagens com olhos cheios d?água, prestes a desabar emocionalmente, marca da série sobre os sobreviventes, são usados várias vezes ao longo de Missão: Impossível III. E, como em alguns capítulos do programa, esses momentos são construídos quase que sempre entre o humanismo e a pieguice, sem que um nunca necessariamente anule o outro, nem deixe o outro se sobressair.
As limitações de Tom Cruise enquanto ator, algo que se insiste em lembrar, não fazem diferença aqui por causa da maneira como Abrams deixa a história envolvente. Cruise deveria, sim, é receber mérito por seu talento para administrar a carreira e apostar em escolhas inusitadas como a do novo diretor da série que estrela há dez anos. À cartilha da série (cenários exóticos, perseguições sensacionais, vilões infalíveis), o cineasta, o primeiro que escreve um dos três filmes, adiciona a câmera trôpega que você já havia visto em vários outros lugares – e que se consagrou em Lost, mas que cabe bem demais aqui, além de micro-soluções de roteiro, que, quando não são necessariamente excelentes ou inovadoras, decretam uma linguagem própria do diretor.
Missão: Impossível III ½
[Mission: Impossible III, J.J. Abrams, 2006]
Chico, para mim o grande trunfo de Missão Impossível 3 é ter sido dirigido, desta vez, por um diretor de séries televisivas (assim como fora a própria Missão Impossível). Não vou a dizer a você que foi o melhor da trilogia (ainda fico com o do mestre Brian de Palma), mas o resultado final foi além das minhas expectativas (e, claro, um milhão de vezes melhor do que o segundo). Abraços e em breve retorno.
realmente a camera anda muito rapido no filme, até nas cenas paradas, sai tonto do cinema
O Abrams seria um bom diretor para um filme de outra série: 24 Horas (filme que, aliás, já está em planejamento). Durante o MI3 eu não conseguia deixar de compará-lo à 24, as semelhanças são muitas. 24 levou as tramas de espionagem e conspiração a outros níveis, então é inevitável mesmo que um filme com mesma temática acabe sendo comparado a ela.
Gostei da trilha, parece muito com a de LOST e coube bem no filme.
Claro que isso foi um exagero.
Não há nada que eu mais goste hoje em dia do que “Lost”.
Acabei de ver a primeira temporada do “Lost” (meu irmão comprou a caixa de DVDs). É legal, mas não achei excepcional (a primeira temporada do “24” foi muito mais eletrizante, e o fim desta temporada inicial de “Lost” é chocho perto do que Abrams já havia feito em “Alias”) nem fiquei viciado ou curioso para saber o que acontece depois.
Vc sempre me deixa com vontade de ir ao cinema… vou olhar atentar para os detalhes aqui descritos! Bjo
Guiu
Iris, olhaí:
http://filmesdochico.blogspot.com/2006/01/crime-delicado.html
Chico! que bela surpresa ( sua visita lá no eleela) !!
não entendi o lance da arrogância ( seu comentário sobre o filme) 😛
queria muito saber seu ponto de vista, procurei a crítica ( de crime delicado) no seu blog e não achei. dá o link!?
Beijim!